Reme! Mesmo quando não tá tudo tranquilo e favorável
Pensei em escrever um texto sobre o estranho ritual de reprodução das focas albinas da Rússia. Pensei, mas logo desisti. Desisti porque na época em que escrevia apenas por hobby eu fui presenteado com o seguinte conselho: “Se puder escolher, escreva sobre aquilo que está sentindo. Porque é disso que os textos mais potentes são feitos!” E, sinceramente, não estou sentindo nem um lovezinho pelas focas albinas da Rússia no momento. O que estou sentindo? Uma felicidade do tamanho da colherada colossal de arroz que a minha avó costuma colocar em meu prato depois que eu repito, várias vezes, “Isso é muito, vó!”.
E por que estou exageradamente feliz? Porque percebi que não há crise, Zika ou “acho melhor você desistir, fazer algo mais pé no chão” capaz de me fazer parar de remar em direção aos meus sonhos. É óbvio que os maremotos que nosso país está enfrentando dificultarão muito as coisas pro meu (nosso) lado. Não tenho dúvida. Porém, sei que nada vai conseguir me barrar ou fazer com que eu dê três tapinhas no tatame da vida. Nada!
Eu já engoli muita poeira e sapos-boi pra chegar até aqui, muita mesmo, e sei que galáxias me separam do planeta que desejo – e vou! – alcançar. Mas rasgar meus sonhos porque eles parecem condenados a permanecer em papos de boteco? Desacreditar em meu potencial por causa de meia dúzia (ou foram vinte e sete?) de portadas na napa? Aceitar uma existência que se resume em trabalhar com algo que odeio e não ter tempo pra gastar com aquilo que amo? Não, isso eu não vou fazer. E não me venha com aquele papo que começa com “é a vida” e que termina com “fazer o quê?” Porque, para mim, a vida só é de fato vida para aquele que tenta, ao menos, tocar aquilo que coloca um sorriso no rosto, na alma e no coração. O resto é ilusão, pontos que batemos porque achamos que não tem saída, que nascemos condenados à falta de asas.
Se você vai conseguir chegar lá – onde quer que seu lá seja! – é outro papo, né? Mas nem sequer tentar? Aceitar a derrota antes mesmo de entrar em campo? Pedir pra joguem a toalha antes mesmo do nocautão? Não! Não! Não! Eu tô vivão e, enquanto estiver assim, eu vou lutar. Até o soar do gongo do último round. E nada vai me parar, faço questão de repetir. Pelo contrário: transformarei socos em razão para me reerguer mais forte. Pois é assim que você cresce. É assim que você aprende a se esquivar, a manter a guarda alta.
Quando disserem que sou ruim em algo, buscarei formas para me tornar o melhor naquilo. E enquanto muitos estarão reclamando do que deu errado, estarei quebrando a cabeça para encontrar formas de fazer dar certo. Saca? E aos invejosos, que neste momento estão rindo ou dizendo que este discurso só funciona em texto, deixo apenas uma sugestão: invistam o tempo e energia que gastam torcendo para o fracasso alheio em coisas que colocarão vocês mais perto do sucesso. E falo de sucesso de verdade, de vocês, não do tombo do outro, ok?
Agradeço, até, as tantas vezes que a vida foi ingrata. Pois, sem as rasteiras que ela me deu, não saberia a importância de buscar, sempre, formas de melhorar o meu equilíbrio.
Eu sei que será difícil. E tô ligado que as coisas por aqui não vão melhorar tão cedo. Mas sei, também, que desistir é errar na mosca, assinar – sem espernear – o atestado de óbito dos meus desejos. Então, se é isso que tem pra hoje, é disso que farei minha laranjada. Ou melhor: a minha caipirinha. E ficará foda, pode apostar! Aliás, estão mais do que convidados para bebê-la. Porém, até que ela fique pronta, sugiro que pensem em formas capazes de transformar aquilo que têm em uma caipirinha – ou em outra coisa que amam e que fará com vocês sintam que estão vivendo, e não apenas sobrevivendo.
Um brinde à vida. À sua! À minha! Esteja ela malcriada como adolescente mimada ou boazinha como criança escrevendo cartinha pro Papai Noel.
Um brinde em homenagem a todos que brindam – e remam! – sempre, mesmo quando as coisas não estão tranquilas e favoráveis.
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