Se a sua vida está confusa, é porque você ainda não assistiu GIRLS
Existem sim flores bonitas no meio de bagunças disfuncionais. Mulheres a beira de um ataque de Tequila, por exemplo. Riem soltas, desatam a tristeza, mas também desabam em dias de sol. Matar as distâncias nem sempre resolve. Em uma escada, elas vendem sapatos usados e falam sobre nada. Se o nada não der certo, inventam um abada qualquer e dançam com o talento da falta de jeito. Tuts tuts tuts! Desconfio de que conselhos foram feitos para gente desobedecer. É assim com elas, conosco, com os felinos. Conhecê-las foi como estilhaçar meu próprio telhado. Elas me ensinam versões em que o quadrado não se aplica a realidade e a lógica aleatória quase se confunde com as presunções de Woody Allen.
Só dez e já termina, todo ano assim, esse pouco, e já queremos mais. É sempre um deleite me encontrar com Hannah e a sua turma [quase] borderline. “Girls” me levou até aqui pelo seu lado impar. Não é segredo que eu gosto de quem ainda não se achou no mapa e do que acontece enquanto a gente não pisa firme no chão – melhor ainda se for naquele planeta caótico e moderninho chamado Nova York. A cada início de episódio, a expectativa sobre qual será a cor do letreiro “Girls”, ou ainda qual será a musiquinha dos créditos finais.
Elas sabem degustar os dilemas e aproveitar o hedonismo que o Brooklin tem. O que me faz ir em frente com uma série, geralmente é o meu apego aos personagens, em como eu contraceno com cada um daqui do meu quarto. Essa coisa delas serem quase felizes, quase decididas, quase maduras dialogando com os dilemas de uma geração frustrada pelo excesso de opções. Acho que das coisas que eu mais admiro no universo das mulheres é isso: elas sabem gritar.
Em cada traço dito, um pouco de Lena Dunham, cavaleira de Jedi, do sarcasmo excêntrico, do humor limonada, da beleza que desmente obrigações estéticas. Autêntica mesmo quando desnecessária. A gente fica ali, vidrado em algum quarteirão entre o narcisismo e a vitalidade de Hannah e o seu jeito criativo e leviano de ruar o coração. Sua disposição para escrever, urinar, gozar, vestir figurinos pra posteridade e nos intervalos, abrir um pacotinho de snacks, “I don’t care”. Seu trio de amigas também valem o vinil. Os sincericideos de Shoshanna junto de sua ingenuidade em relação aos seus apuros e descobertas. Jessa, um sabre de luz e seu narco-temperamento engendrado por uma visão pessimista e ao mesmo tempo pragmática em relação ao mundo. É a gata selvagem, arisca, descolada, realista, solitária e o melhor: solta rajadas via cabelão. E como não sentir ternura e vergonha alheia quando Marnie resolve se apoderar de algum microfone para cantar. Ela é a alegoria de suas canções: irritante, mimada, boring, superficial e egoísta.
Os vinte e poucos anos, algumas ciladas e a identidade de encontro ao caos. Girls não é apenas um seriado, é uma gíria ou uma garotice flamejante. Lots of Love.
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