Se for para namorar…
Se for para namorar de maneira contida, cheia de dedos fora do lugar e temendo parecer o mais brega dos seres, qual é a graça?
Se for para namorar sem porres às sextas-feiras, cineminha – e pipocas! – aos domingos e saudade imensa às segundas-feiras, qual é a graça?
Se for para namorar sem inventar aqueles apelidos bizarros, sem acreditar que aquela música foi especialmente composta para o casal e sem um pingo de ciúme daquele moço bonito do trabalho dela, qual é a graça?
Se for para namorar com medo de acordar os vizinhos com gemidos, de incomodar os mal-humorados com gargalhadas desenfreadas e de, graças a declarações públicas de amor, virar piada na boca invejosa dos insensíveis, qual é a graça?
Se for para namorar sem possuir uma caixa cheia de lembranças e cartões antigos, sem tirar fotos clichês com o pôr do sol ao fundo e sem saber qual sabor de pizza ela prefere, qual é a graça?
Se for para namorar sem virar a noite começando frases com “Você se lembra do dia em que nós…”, sem dizer “Eu te amo” quando ela parecer insegura e sem afirmar “Logo você ficará boa!” quando a gripe dela chegar, qual é a graça?
Se for para namorar com vergonha de assumir que você precisa de colo, que está com pavor de perdê-la e que você errou feio quando foi grosso, qual é a graça?
Se for para namorar sem vontade de levá-la para voar de balão na Capadócia, passar o Natal em Nova Iorque e comer pastel pelando na feira, qual é a graça?
Se for para namorar sem saber que ela prefere chocolate amargo, que não gosta de presunto e que ama pão com vinagrete, qual é a graça?
Se for para namorar apenas para ter um estepe, por não suportar a sua própria companhia e para dizer aos amigos que você é capaz de conquistar alguém, qual é a graça?
Se for para namorar preocupado com aquilo que os outros vão pensar, importando-se com o que dizem as tias fofoqueiras e com medo de apresentá-la aos seus amigos, qual é a graça?
Se for para namorar apenas para mudar o status do Facebook, publicar no Instagram e ter com quem conversar no WhatsApp, qual é a graça?
Se for para namorar, que seja com coragem de se declarar disposto a matar e morrer por ela – nem que apenas dentro de uma poesia exagerada como só a poesia sabe ser -, senão, qual é a graça?
* Texto originalmente postado em Revista Catwalk.
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