Sexo é desigualdade entre parceiros
“Pois no sexo não há um ponto de equilíbrio absoluto. Não existe igualdade sexual, não pode haver igualdade sexual, uma igualdade em que as duas partes sejam iguais, em que o quociente masculino e o quociente feminino estejam perfeitamente equilibrados. Não há como negociar de modo medido essa loucura. Não se trata de um acordo de cinqüenta por cento para um, cinqüenta por cento para outro, como numa transação comercial. O que está em jogo aqui é o caos de Eros, a desestabilização radical que é a excitação erótica. Na hora do sexo, todos nós voltamos para a selva. Voltamos para o pântano. O que há é um domínio, um desequilíbrio perpétuo. Você vai excluir o domínio? Você vai excluir a entrega? O domínio é a pederneira, é ele que produz a faísca, que dá início a tudo.”
Ontem, após ler o trecho acima, parte do livro “Animal Agonizante” do gênio Philip Roth: bati sonoras palmas, respirei bem fundo, senti-me compreendido e pensei: “É isso, porra!”.
Ando cansado de ler artigos que tratam o sexo como algo extremamente racional e equilibrado. Já não suporto mais ouvir seres dizendo que o ato sexual é uma relação harmônica entre duas pessoas. Pois não é.
Toda atividade sexual possui, mesmo que de maneira extremamente sutil, um elemento de domínio. Não estou falando de sadomasoquismo ou de escravos vestindo roupas de couro e algemas apertadas, nada disso, refiro-me ao sexo que você faz toda semana com seu namorado. Isso mesmo, falo do prazer que sente quando ele agarra você pela cintura e, com os dedos cravados em seu couro cabeludo, doma-a como se você fosse um bicho. Falo da linguagem imperativa que usa, mesmo sem notar, quando diz: “Não para!”. Percebe?
Terá coragem de afirmar que no ato sexual existe equilíbrio constante? Pense bem nos seus fetiches. Não precisa me contá-los. Mas, sem dúvida, encontrará em muitos deles, ou até em todos, componentes claros de domínio e desigualdade clara entre as partes envolvidas no processo.
Sexo é, com toda certeza, uma soma de desequilíbrios. Uma colisão violenta entre os desejos que escondemos todos os dias, enquanto, no mundo coorporativo ou na mesa farta de domingo, fingimos que somos capazes de controlar todos os nossos instintos primitivos e vontades indivisíveis.
Gostando ou não do livro “Cinquenta Tons de Cinza”, não podemos negar o mérito da obra que fez a cabeça de inúmeras pessoas pelo mundo e, se olharmos ainda mais atentamente para a história de Anastasia Steele e Christian Grey, perceberemos que o livro expõe, de forma caricatural, o inegável prazer existente nas posições de desigualdade assumidas por nós, todos os dias, entre quatro paredes.
Ainda duvida de mim? Acha que estou exagerando? Só consegue pensar em elementos de domínio quando imagina pessoas vendadas e usando roupas de látex? Então pense na sua posição sexual preferida. Pensou? Eu não tenho bola de cristal, mas, estatisticamente, tenho grandes chances de adivinhá-la se disser que prefere transar de quatro e, se assim for, o domínio estará presente sempre que assume tal posição. Errei sua posição preferida? Prefere estar por cima? Mais um exemplo de desigualdade, ou seja, gosta de estar em posição superior e no controle. Poderia ficar aqui evidenciando elementos de domínio em cada uma das posições e nas situações comuns no sexo, mas, creio que já percebeu o quanto o Philip Roth estava certo quando afirmou que no sexo não há um ponto de equilíbrio absoluto.
Quer saber a minha opinião? Lute, sem medo, pela igualdade entre sexos e raças, porém, na cama, entre quatro paredes: entregue-se, sem pudores, ao tesão gerado pelo desequilíbrio.
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