Sobre como me tornei mulher
Foi numa terça-feira. Exatamente às 11h19 num quarto de hotel. Engraçado, sempre pensei que seria à noite, afinal, esses acontecimentos importantes na vida das mulheres sempre acontecem de noite. Comigo não. Era só mais uma manhã sem graça que no final abriu meus olhos para um mundo totalmente desconhecido.
A gente se encontrou como num filme de romance daqueles açucarados que fazem menininhas de 12 anos suspirar. Tudo bem, afinal, no auge dos meus 21 ainda não tinha as experiências necessárias para me intitular mulher.
Andava pela rua com o olhar perdido e ingênuo de quem ainda acreditava em ilusões. Foi quando o vi de longe. Sabe aquela história de amor à primeira vista? A rua estava movimentada e mesmo assim meu olhar deu um jeito de encontrá-lo. De repente, o mundo ficou em câmera lenta, as pessoas ao redor começaram a sumir e tocou aquela música do Closer: ‘And so it is… just like you said it would be‘
Olhei para ele. Sorri meio de lado, ainda tímida. Óbvio, ele não fez nada, nem se mexeu. Ele era alto e lindo demais, estava fora do meu alcance. Ele não era para mim. Era tudo tão errado que acabou dando certo.
Mesmo envergonhada, toquei nele pela primeira vez ali no meio de todo mundo. Ainda não estou bem certa quem levou quem até o quarto de hotel, mas tenho a impressão que foi ele que me conduziu até lá antecipando tudo que aconteceria. Entramos e fui logo tirando o vestido, queria ficar só com ele ali para ver o quanto éramos perfeitos juntos.
Eu ainda estava meio desajeitada em cima dele sem saber me mexer muito bem. Ele, ali nos meus pés, me ensinou coisas sobre meu corpo que eu ainda não tinha descoberto. Foi como se meus olhos, agora menos ingênuos, finalmente enxergassem o mundo.
Ele me fez sentir bem, bonita, poderosa. Me fez andar com o peito aberto pronta para os novos desafios da vida. Depois dele vieram mil outros e por eles também me apaixonei perdidamente e só sosseguei quando eles finalmente estiveram sob meus pés.
Só que dele, daquela surpresa boa de uma manhã de terça sem graça, sempre vou lembrar, pois foi assim que me tornei mulher vestindo pela primeira vez um sapato Louboutin.
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