Sobre viver com quem se ama
Sempre que alguém repete aquela bobagem de “ninguém é o que parece”, eu logo percebo que essa pessoa ainda não entendeu qual é a da vida.
Ora, é claro que as pessoas são o que parecem. As pessoas são o que parecem, o que não parecem, são o que gostariam e não gostariam e são um bocado de outras coisas que talvez nem elas imaginem ser.
As pessoas são muitas coisas e talvez seja justamente isso que nos diferencie das personagens de A Usurpadora e não divida o mundo entre Paolas e Paulinas. SER MUITAS COISAS. Ser muitas coisas é bacana, principalmente quando você é bem confusa e não sabe ao certo o que gostaria de ser.
Eu, por exemplo, sempre fui um bocado de coisas boas. Comunicativa, extrovertida, tranquilona, prestativa, reflexiva e bem humorada. Eu sempre fui tudo isso e não é coincidência se for justamente o que parece.
Mas sabe, eu também sempre fui um bocado de outras coisas que não amo tanto assim. Medrosa, avoada, carente, inconstante, indecisa, procrastinadora e sensível à opinião alheia. Eu sempre fui tudo isso e por mais terapia que já tenha feito na vida, eu sigo empregando esforços pra que essa seja a parte que não aparece.
Eu sigo fazendo isso, mas esses dias percebi que talvez esse esforço seja em vão. Talvez seja em vão porque quando você vive com quem ama, a real é que tudo aparece. E aparece logo pra ele. Logo pra ele, pra quem eu queria parecer perfeita.
Bobinha, eu achava que o grande problema seria acordar remelenta e nem pensei na possibilidade dele me ver chorando por insegurança e desmoronando de medo.
Eu não pensei em nada disso até que tudo isso acontecesse e foi aí, exatamente aí, que eu entendi qual é a do amor.
A do amor é justamente isso. Amar o outro desmoronando e sem armadura. Amar no outro o que nem ele mesmo é capaz de amar e deixá-lo à vontade para simplesmente ser todas as coisas que não parecem nem aparecem.
A real é que o amor do outro nos ensina a nos amar um pouco mais e é justamente essa a grande sacada do amor. Amar tudo o que parece e não aparece no outro e enfim perceber que não é preciso ser uma fortaleza para ser amada.
Amar é sobre viver, aprender e crescer.
Sentimentos transmitidos através da escrita, adoro esse tipo de amor, o amor delicado, plural e constante.