Tempos de impaciência
Oi, sou eu. A mesma mulher que escreveu o texto “geração veloz” e que, não satisfeita, resolveu escrever agora sobre os tempos de impaciência. Cá entre nós, é uma contiuação, uma vez que a geração impaciente é a mesma que escolhe ir veloz.
Deus nos livre de ficarmos dois minutos esperando o aplicativo baixar, sete minutos esperando o uber chegar, um minuto sem bateria. Porque, afinal, quanta coisa estamos perdendo nesses minutos, não é?
E para ouvir o desabafo de um amigo? Daquele tipo longo, quase interminável, cujo conteúdo você já decorou? Uma olhada no instagram, um “aham” para o amigo sem nem olhar no olho, uma resposta enviada no “whatsapp”, um “você já sabia que isso ia acontecer” dito ao amigo assim, às pressas. Sem nem absorver o que foi dito. Cadê a paciência para escutar? Para dar a mão, o ombro, comprar cerveja, sentar no chão da sala, desligar o celular, ligar uma música e estar ali, no presente, para quem precisa.
Vocês se conheceram em dezembro, quando tudo é festa, sorriso, vinho e sobremesas. Trocaram telefones, trocaram beijos, trocaram promessas dessas feitas em uma noite que parece de filme. Aí, vem um vacilo. Ok. Todo mundo vacila. Vamos em frente. Um mês, dois meses, mais vacilos. Você começa a não ser tão sorridente, a falar umas verdades, a observar mais. Pronto. Ficou chato, ficou pesado, ninguém precisa disso. Fim. Em tempos de impaciência não se tem tempo para lidar com o pior de alguém ou com as dificuldades de alguém. Em tempos de impaciência, o descarte tem sido muito, muito usado. Estragou? Compra outro. Ameaçou se envolver? Tô fora. Áudio de três minutos? Amanhã eu ouço. Fila com quinze minutos de espera no restaurante? Vou pra outro.
É assim. Tem sido assim. E isso me deprime muito. Em um mundo onde as atualizações acontecem em segundos, pessoas se perdem em segundos também. Por não ter paciência de lidar com o outro, por não ter paciência de entender o que foi dito e logo despejar um comentário maldoso, por não ter paciência de olhar para o outro e buscar entender o que há por trás.
Tempos de impaciência são também tempos de solidão. Somos tão impacientes com os outros, com a vida, com o trânsito, com o trabalho, que não percebemos que com isso vamos nos fechando.
Não percebemos o pôr do sol na volta para casa, não percebemos a demonstração de carinho naquele áudio de três minutos de um amigo que sentiu saudade e quis nos contar as novidades, nos deixar por dentro da vida dele, apesar da distância. Não vemos a angústia de quem está ao nosso lado, querendo ser ouvido porque estamos impacientes demais tentando resolver os problemas do dia seguinte. E a lista não para por aí.
Se eu puder desejar algo a todos nós, além de saúde, eu desejo paciência. A vida não passa rápido demais, nós é que estamos passando apressados demais por ela.
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