Um pouco sobre Frederico Elboni
Alguns dias atrás foi aniversário do meu pai e por um acaso, e ócio de vida, me sentei em um canto da minha casa e comecei a repensar em tudo, nas coisas que perdi, nas coisas que deveria ter feito…
Quando menor errei várias vezes. Errei ao deixar de dizer o quão linda era a minha primeira namorada deitada lendo o pequeno príncipe pela vigésima vez. Errei quando não deixei o sentimento me dominar e se preciso deixar-me jogado ao chão passando frio. Mas principalmente errei por não ter dito algumas coisas antes do meu pai partir.
Não ter meu pai desde os 13 anos foi algo que me deixou desprovido de vários aprendizados. Como funcionam as mulheres? Com quem eu iria dar toquinho com bola de capotão no parque? É verdade que as escorpianas são sempre mais safadas? Como funcionam as malícias da vida? Como dou um nó de gravata? Como conquisto uma mulher sem parecer bobo?
Não unicamente uma questão de saudade, mas esses acontecimentos me podaram vários sonhos, caminhos, mas principalmente aprendizados. A vida me impôs amarras que sufocavam a minha vontade de demonstrar os meus sentimentos. Sem esses toques me aventurei a aprender sozinho o que for preciso para ser um homem.
Comecei sendo bobo e querido com as meninas, daqueles que era o amigo perfeito para elas. Perdi tantas namoradinhas, se é que posso dizer assim, por ser bobo e esperançoso demais. Nunca vou esquecer o que meu pai me disse no meu aniversário de 13 anos. Eu tinha acabado de perder a oportunidade de conquistar a menina que eu gostava para um colega por burrice e insegurança. Cheguei repudiado e com poucas esperanças, pois por insegurança estava esperando a oportunidade certa e o momento certo para abordá-la com um poema, e sem pestanejar ele me disse via telefone:
“Lico, não existe local e momento para conquistar, você o cria, você determina as regras…”. (ele me chamava assim pois quando pequeno eu não sabia pronunciar meu nome e falava Fredelico)
Desamparado e desabitado internamente resolvi me dedicar sozinho, tanto literalmente, quanto intrinsecamente, e comecei a me decifrar, fechei-me aos meus sentimentos, estudei mais sobre o mundo, como se vestir, comer, se portar e assim extrair o melhor do pouco que absorvi do meu pai.
Com o tempo me tornei domador dos meus próprios sentimentos, sabia conquistar, sabia dizer as coisas certas nas horas certas, e talvez até soubesse exatamente o que fazer para conquistar a mulher que eu quisesse. Mas porventura em todos esses anos eu talvez nunca tenha realmente me entendido, me descoberto, me conquistado… Cheguei a um ponto chave da vida que a frivolidade supriu os sentimentos.
Em vários momentos da minha vida eu chegava em casa, sentava horas no meu sofá perto da varanda e ficava tentando me entender… Como isso era possível? Eu conquistava a mulher que eu julgava sublime, levava para jantar, mesclava na temperatura certa o meu jeito grosso e carinhoso, colocava uma música, criava charmes com dizeres de manjares e após todo esse nuance chegava em casa pensando: “Então, é isso?”. Ninguém me despertava algo diferente, ninguém deslocava o meu coração de lugar e meu estômago sempre teve um ótimo repelente de borboletas.
Apesar de tudo nunca fiquei com receio de ficar sozinho o resto da vida e viver essa vida baseada em uma aventura comigo mesmo. Sempre achei o máximo ser um lobo solitário, pegar minha mochila e conhecer várias culturas, mulheres, lugares… E nesse meu mundo de lobo solitário nunca achei um espaço para encaixar mais alguém. Na minha cabeça as coisas sempre foram muito bem calculadas e dominadas pelas vantagens e desvantagens. Por um lado raramente deixei de intumescer minha vontade de conquistar determinada mulher, por outro talvez nunca tenha sentido algo engrandecedor como a maioria julga sentir.
Então com o tempo e a maturidade da vida, que ainda muito me deve ensinar, aprendi que o errado sempre fui eu. Não eram as pessoas que não me despertavam nada, mas sim eu que não lhes dava oportunidade de me despertar. Sem perceber eu cortava meus instintos de gostar por medo de não arcar com certas consequências. Até porque não são os outros que devem se adaptar a sua bronca perfeição, mas sim você que deve se adaptar aos defeitos dos outros. E talvez essa seja a premissa da minha vida, estudar, me entender, entender as pessoas e levar à elas palavras que arranquem sorrisos, pudores, anseios, medos e mostrem que a simplicidade sempre estará na perspectiva e não na situação.
Ser uma pessoa rasa é sempre mais fácil, mas quando você se predispõe a estudar os traumas que a vida nos deixa, a parte psicológica e cognitiva de tudo isso, você acaba percebendo como isso nos molda perante a vida. E assim começa a entender o motivo dos respectivos defeitos de cada um, atitudes, sonhos e principalmente medos.
Hoje eu sei o quanto eu preciso do amor para ser criativo, para ter prosperidade, mas principalmente para eu, ser eu…
Com uma voz um pouco presa só gostaria de dizer que sinto uma saudade gostosa sua Pai, e que ela sempre, sempre será baseada no orgulho, admiração e algumas lágrimas… Obrigado, por mesmo não estando presente ter jogado alguns pedacinhos de pão no meu caminho para eu sempre saber para onde voltar.
Abraços, Fred.
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