Uma carta para você
Eu sei que você não vai ler. Você trocou o telefone, o e-mail, deletou o Facebook. Não temos amigos em comum, nem ninguém vai te mostrar isso. Mas eu preciso te falar umas coisas. Antes de mais nada, que bom que você está bem. Apesar de tudo, eu me preocupo e torço por você e pelo seu sucesso. Eu sei, mesmo eu tendo falado mal de você, gritado e ficado irritado. Que bom que você está feliz e não está mais sofrendo. Inclusive, quando eu pergunto sobre você para as pessoas, eu não pergunto por fofoca nem por raiva, eu pergunto porque eu, apesar de tudo, torço por você. Mesmo não parecendo, mesmo todo mundo ao seu redor dizendo o contrário.
Nós nos fizemos muito mal. Eu fui um idiota, você foi estúpida, isso todo mundo sabe. Isso você contou pra todo mundo, eu contei pra todo mundo. Mas ninguém sabe o quanto nós nos fizemos bem. Eu não contei pra ninguém, você não contou pra ninguém. Ninguém sabe como nos ajudávamos mutuamente, como nos apoiávamos, como entendíamos os demônios interiores um do outro. Mas essa parte deveríamos ter feito mais, porque foram esses demônios que nos afastaram, que nos fizeram desistir um do outro e, pior, que nos fizeram agredir e machucar um ao outro. Mas nos fizemos muito bem, também. É muito doido, isso tudo. Metade de nós tinha potencial para ser o melhor casal de todos os tempos. Mas a outra metade tinha um potencial incrível de provocar uma catástrofe – de verdade – nas nossas vidas.
Tanto que, seis meses depois de todo aquele furacão, a nossa conversa foi amistosa e bem humorada. E, por incrível que pareça, eu hoje só consegui ver a nossa metade boa. Mesmo que, minutos antes de nos encontrarmos, a metade que dominava a nossa cabeça era a nossa metade ruim. Desculpa. Desculpa ter te feito mal, desculpa por não ter tido mais paciência. Desculpa não ter segurado a onda quando você precisou, e desculpa por você não ter segurado a onda quando eu precisei. Desculpa não ter sido o que você achou que eu fosse, e desculpa por ter cobrado que você fosse o que eu idealizava que você fosse. Desculpa, principalmente, por não perpetrar e não levar pra sempre todo o ódio e o rancor que as pessoas – e talvez você também – esperavam que eu carregasse pra sempre. Eu torço por você, quero seu bem, e ainda sinto carinho pela sua/nossa metade boa. Pela primeira vez na vida eu estou deixando as coisas boas falarem mais alto que as ruins. Fica bem, seja feliz, e, eu sei que no fundo você sabe que tudo o que eu errei foi tentando acertar, porque você também o fez. Se cuida. É como eu te falei, eu estou ficando velho e mole. Espero que eu não me arrependa disso.
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