Uma história real sobre Fred e suas chatices
Para começar esse texto que promete arrancar sorrisos e verdades assumo que nunca fui um bom aluno. Quase fui expulso do colégio umas três ou quatro vezes. Até assinei termo de compromisso – super charmoso, eu sei. Eu não era um aluno mal educado ou bagunceiro, mas sempre fui muito piadista e serelepe – adoro essa palavra. Sabe aquele que a professora manda para fora da sala – por obrigação em manter ordem – mas chega em casa contando para família que tem um aluno, que apesar dos defeitos e conversinhas paralelas, é muito engraçado e boa gente? Então, era assim que eu imaginava ela falando de mim.
Pense comigo, qual seria a graça da minha história de vida caso eu fosse um aluno que só tirasse notas exemplares e nunca tivesse aprontado alguma? Sempre achei, desde pequeno, que um dia eu iria no Programa do Jô e minha professora contaria um pouco de como eu era na época que ainda estava dando nome aos meus pentelhos. E claro, não queria que ela dissesse: “Ele era um ótimo aluno, sempre bem estudioso e não comia ninguém”.
Convenhamos, muito mais charmoso ela chegar e dizer: “Ele era um inferno, aprontava muito e fazia a sala inteira gargalhar, mas hoje ele é o que é. E continua não comendo ninguém.”
Continuando nessa linha retórica dos meus mais invasivos defeitos, contarei um dos meus piores. Volta e meia eu saía com uma mulher e conversava horas a fio sobre Dostoievski, Molejo ou como não compreendo pessoas que em sã consciência colocam ketchup na pizza. Então durante o enredo da conversa e seus possíveis beijos cheios de saliva, eu olhava o cardápio e perguntava: “Gostas de Bruschettas?” e ela respondia: “Sim, adoro e sei fazer muito bem” – por mim eu já casava ali mesmo, até porque que homem não casaria com uma mulher que sabe fazer Bruschettas?
Aí se por uma eventualidade – ou ócio na vida dela – saíssemos de novo eu provavelmente iria repetir a mesma pergunta. Eu parava, refletia comigo mesmo e pensava: “Cara, será que já perguntei isso pra ela? Ou foi para outra pessoa?” e na dúvida eu dizia com a mesma cara de ineditismo: “Gostas de Bruschettas?” e ela respondia: “Já me perguntasse isso…” e assim eu parecia um desinteressado, mas na verdade eu só era tanso e avoado mesmo.
Sim, por incrível que pareça já namorei algumas vezes e todas sabem – a maioria tem certeza – do quão chato e, porque não, veado, sou ao falar das minhas opiniões sobre roupas femininas. Se você já foi minha namorada, pode confirmar minha tese nos comentários. A regra para namorar comigo é simples: não pergunte minha opinião. Eu não gosto de nada que seja muito extravagante. Não gosto de unhas estranhas ou customizadas. Não gosto de saltos Ana Bella. Não gosto de brincos grandes. Sei que não tenho que gostar de nada e ela usa muito bem o que quiser, mas por isso eu disse: não pergunte a minha opinião. Quando uma mulher me pergunta se algo está bonito, instintivamente penso: “A Audrey Hepburn usaria?” e caso a resposta seja sim, está aprovado. E como eu sei se ela usaria ou não? Imagine a Audrey usando um Sneaker… Viu como é fácil? Sei que talvez eu devesse calar-me e dizer: Está linda – coisa que qualquer homem sensato diria – mas não seria eu.
Outra coisa que odeio é cortar o cabelo. Com certeza isso é uma das coisas que mais tenho repudio na vida. Fico impaciente vendo aquelas pessoas conversando como se não houvesse amanhã. Fazem protestos por tantas coisas bestas, será que posso fazer um protesto por um mundo onde os cabelereiros não falem? A pessoa está cortando o seu cabelo e ainda fica conversando com a outra cliente que também está cortando o cabelo e surrupiando olhares tortos para a TV enquanto o Nelson Rubens grita: “Eu aumento, mas não invento!”. E assim fica aquela conversinha paralela regada de “você viu?”, “sabe quem está grávida?”, “Capaz? Ahããããm” – as gaúchas entenderão.
Também lembro de um dia que eu estava saindo com uma mulher linda – vai que ela lê isso, acho que um elogio cairia bem – e após todo alvoroço de uma noite regada de calcinhas e cuecas no ventilador de teto eu dormi feito um bebê que passou sete horas num parque aquático em dia de sol. Quando acordei senti algo estranho – nada palpável, claro – e resolvi olhar o celular dela escondido. Acreditem se quiser eu achei que ela tinha tirado uma foto minha desprovido de vestimentas adequadas, mas eu não tinha motivos para pensar isso, eu só senti que deveria. E claro, como aquele típico cara que raramente faz algo errado, mas quando faz é pego no ato… Assim foi. Foi charmoso, confesso, e hoje eu e ela rimos disso. Mas aquela sensação de: não tenho o que falar e sim, sou um imbecil casual, foi demais. Enfim, gastei minha manilha da vida ali mesmo.
Então depois de anos namorando – com mulheres diferentes – todas lindas e merecedoras de caras sensacionais – não tanto quanto eu ou o Hugh Jackman – percebo que sempre fui daqueles caras chatos. Meio impaciente. Meio ranzinza. Meio velho. Meio intragável. Aí você deve estar se perguntando: “Tá, mas pra que você servia então?” Então, meu beijo sempre foi bom e eu sabia fazer panquecas. Achei que seria o suficiente. E mesmo assim, com todos meus defeitos e chatices, por incrível que pareça, eu que acabei terminando todos os meus relacionamentos. Obviamente pelo simples e único motivo de: elas não sabiam fazer Bruschettas. O que – DEUS! – é imperdoável.
Hoje, de alma lavada e passada, rio de tudo isso com olhares de aprendizado e história. Aprendi de forma gostosa a importância de entender a vida e suas fases e marés, às vezes turbulentas, às vezes cheias de calmaria. E com o tempo fui adquirindo uma essência de olhar nos olhos das pessoas para sentir suas almas. Não sei porque mas sempre fui bom em conseguir sentir as pessoas. De entender seus erros bobos e respeitar os momentos. De olhar o todo, compreender situações e ali, extrair uma pessoa de bem. E assim aprendi a demorar mais para tirar minhas conclusões sobre as pessoas, o que me fez conhecer pessoas muito mais verdadeiras e que precisavam tanto serem ouvidas com reciprocidade no olhar.
Só queria lembrar com esse texto que ninguém deixa de ser uma pessoa boa por cometer erros de essência confusa. Então depois de toda essa história, digna de sorrisos e quem sabe gargalhadas, deixo para vocês uma filosofia de vida que tenho:
Existem problemas que eu posso resolver, então para que se preocupar? Existem problemas que eu não posso resolver, então para que se preocupar?
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