A dor de um amor que não se acabou
“E se separaram por que? O que aconteceu? Não se amam mais?”
As respostas são ainda mais traiçoeiras do que as perguntas. Ninguém sabe quando aconteceu. Ou como aconteceu. Muito menos se sabe porquê aconteceu. Se separaram por causa da vida. Não, não aconteceu nada e nunca brigaram. Sim, se amam muito. Mas foi cada um para um canto. Como um pé de sapato que fica só.
Os dois andavam juntos o tempo inteiro, caminhavam lado a lado em cada passo dado. Até que um dia um deles se perdeu pelo caminho. Ninguém sabe como aconteceu. Talvez na saída daquela festa louca quando um deles se engatou no sapato do moreno alto do bar, e o outro voltou para casa desolado e sozinho. Ou pode ter sido na volta de uma viagem quando as malas foram arrumadas às pressas. Um deles voltou. O outro ficou esquecido jogado ao pé da cama do hotel embaixo do lençol amassado. Talvez tenha acontecido ao estilo Cinderela que sai do baile e perde o sapatinho de cristal deixando para trás o príncipe com a esperança de um dia encontrá-la novamente.
A única coisa que se sabe é que o amor, assim como o par de sapatos, era lindo e não foi quebrado, rasgado ou desgastado demais. Tampouco foi manchado ou desbotado.
Só se sabe que hoje os dois já não formam mais um par, pois um dos pés se separou e partiu deixando no lugar apenas um pé perfeito e sozinho. E que vai continuar ali para sempre completamente sem manchas. Quase intocado.
É triste. É muito. Fica aquela sensação incompleta. É a dor de um amor que mal começou e terminou sem ter acabado. Sem ter sido vivido até o fim. Sem ter percorrido quilômetros de distância em busca de um pôr-do-sol perfeito e depois rodeado na areia sob o luar. Sem ter dançado noites incontáveis. Sem nem ao menos ter machucado os pés.
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