10 aprendizados que um colunista obteve com vocês leitoras

Faz mais ou menos um ano que comecei a me aventurar por aqui, e durante esse tempo de relação com vocês fui aprendendo a me comunicar através de textos leves, que trouxessem algum tipo de aprendizado ou informação nova. Esse texto é uma homenagem a esse tempo como colunista do “EOH”. Ele traz percepções sobre quem le ou para quem também quer trilhar o caminho da escrita um dia.

1 – A arte é uma carpintaria diária

Qualquer artista precisa alimentar sua criatividade através de uma carpintaria cotidiana. Isso inclui ouvir conversas alheias na padaria – esqueça que isso é falta de educação -, reparar em como você prepara um bolo, não ter medo de expor suas dores e o seu lado mais bizarro – ser verdadeiro aproxima as pessoas. Você pode inclusive criar um público que ama te odiar, caso opte por ser mais polêmico. Carregar um caderno de epifanias é também um auxilio importante para que nenhuma ideia escape.  Pratique a escrita, leia o máximo de livros que puder, use o dicionário. Acredite: tem sempre alguém lendo o que você escreve, inclusive no Facebook.

2 – Não basta ser bom escrevendo, você precisa também ser craque em títulos.

O seu texto pode ser lotado de epifanias, de cultura pop ou de interessâncias, mas você precisa despertar interesse para que a pessoa clique naquela “manchete” e depois, consequentemente, seja fisgada pelo conteúdo. Na escrita, o título é a tal propaganda que é a alma do negócio. Não pense que inventar títulos que ao mesmo tempo sejam impactantes e íntegros em relação ao conteúdo é uma tarefa fácil. É uma habilidade a mais que um colunistas deve ter.

3 – A indústria do like.

Ganhar like é bom sim. Acho que boa parte das pessoas que escrevem em colunas virtuais sabem que as curtidas são um eficiente termômetro para entender o próprio público. No mundo dos blogs, as curtidas alimentam uma espécie de capital de influência e isso, em termos de ego, facilita o surgimento de semi-beldades, mas também de gente criativa, relevante, que acrescenta. Mas, o like muitas vezes não atesta necessariamente a qualidade de um conteúdo. Atesta algo que está na moda, atesta um assunto de fácil assimilação ou de maior adesão de interessados, atesta um escritor carismático, atesta inclusive burrice coletiva. Acho o like um reconhecimento gentil e justo se o conteúdo que você (leitor) consome, mexe ou altera a sua percepção sobre algo. É um sinal de gratidão.

4 – “O profeta nunca é bem-vindo em sua própria casa”

Optar por carreiras que oscilam na oferta de oportunidades, que envolvem arte e não apresentam muitas garantias financeiras é um ato corajoso. Mesmo se um dia você conseguir se sustentar apenas com a escrita, será obrigado a ouvir coisas do tipo “além de escrever, qual é a sua profissão?”. O mais interessante é que quando você está começando, muitos dos “amigos” que você pensa que irão te ajudar ou dar aquela curtidinha de apoio moral, simplesmente te ignoram – por isso a frase do profeta. Muitos deles vão mostrar apoio apenas quando você “ganhar o prêmio Jabuti de literatura”. Não irão manifestar-se enquanto o sinal de sucesso não der as caras. Nem todo mundo que gostamos torce por nós. Existe o fator inveja, mas também o fato de que às vezes nós simplesmente não somos importantes para algumas pessoas.

5 – Colunistas falam merda também.

Eu acho muito nobre dividirmos as nossas opiniões com um público. E elas podem ser apenas crenças ou achismos baseados nas nossas impressões cotidianas. Mas, não tenha dúvida de que nós também falamos merda e pode acontecer sim de derraparmos nas opiniões ou na Gramática – quem nunca? Eu já me arrependi de textos que escrevi porque em algum momento descobri que as ideias que eu defendia neles tornaram-se obsoletas. E que bom que a gente muda e admite nossos equívocos. Ruim é alguém achar que somos semideuses, acima dos erros, do bem, do mal. Queremos sim o beneficio do erro e do direito de mudar de opinião.

6 – O reconhecimento e os leitores queridos

O reconhecimento de um colunista vem de maneiras muito gostosas. Leitores que nos mandam aquele inbox carinhoso, declarando admiração e fidelidade aos nossos textos. Leitoras que de tão queridas, curtem tudo o que elas gostam na nossa timeline do Facebook, como forma de demonstrar carinho, aprovação, concordância. Tem algumas que querem que seu texto cresça em potência e para isso acrescentam novas impressões e informações sobre eles, não por arrogância, mas por identificação ou generosidade. E a gente vai se apegando e torcendo para que o mundo tenha mais Patrícias ou Zorayas, Brunas ou Annies, Fernandas ou Alines.

7 – Blogs não se diferem apenas pelo conteúdo, mas também pelo público.

Escrever também depende de quem é o seu interlocutor. Identificar quem é o seu público é algo difícil, exige um estudo, um feeling e muitos kilometros rodados. Cada site que eu escrevo possui um público, que apesar de plural e diverso também carrega uma autenticidade, alguma característica marcante em comum. Existe o público que aprecia coisas leves, textos alados de simplicidade e honestidade. Existe o público que gosta de papo-cabeça, de se sentir desafiado, de ser instigado a reagir ao texto. Existe também o público que gosta de assuntos pragmáticos sem muitos devaneios, mas com muita sensatez, querem textos chamativos ou didáticos, que contenham maturidade emocional. E viva a diversidade dos leitores.

8 – Textos podem ser obras inacabadas

É extremamente empolgante quando algum leitor problematiza alguma questão do seu texto com educação e ponderamento. Atitudes haters, opiniões agressivas geralmente não agregam em nada na interação entre as partes. Tenho ouvido muito o termo “comentaristas de portal” como se tal denominação fosse algo depreciativa. Talvez o termo venha justamente de um tipo de leitor que por estar protegido pelo mundo virtual acaba comentando algo sem apurar, sem acrescentar ou simplesmente usa violência verbal a título de sinceridade. Infelizmente hoje sinceridade começou a servir de desculpa para falta de educação. O problema nunca é você discordar, é o jeito de discordar. Eu tento nunca me comportar como dono da verdade ou como se meu texto fosse uma ideia fechada e impermeável. Arrogância intelectual além de segregar público, também limita a visão de um escritor. Sabedoria é também colocar-se como aprendiz.

9 – “Você pode ser simples sem precisar ser simplista”

Frase que o meu chefe Fred Elboni vive repetindo. Ela norteia muito os meus textos. Usar palavras difíceis pode ser uma forma de afastar e segregar. Nossas ideias podem ser claras sem que a gente precise escrever de forma pirotécnica e mirabolante, mas também sem caiamos em um simplismo medíocre. A ideia é que a escrita olhe no olho, chegue a encostar no leitor e eu venho aprendendo que a simplicidade é um ótimo canal desde que você não subestime quem lê.

10 – Às vezes a gente generaliza sim, ninguém é perfeito.

Cada vez mais me percebo tomando cuidado para não generalizar uma ideia dentro do texto. Mas vou te contar que é muito difícil você elencar argumentos e posicionar-se sem que inevitavelmente caia nessa armadilha. Isso de certa forma me obriga a tecer textos mais explicativos em que eu já me justifico preventivamente para que nenhuma ideia seja distorcida. Lembro-me de um post sobre a Copa em que disse que o brasileiro preferia a Ivete a Claudinha e fui “vaiado” em peso por ter botado palavras na boca dos leitores. Depois entendi que eu realmente não precisava ter sido tão sensacionalista ou leviano

No mais, agradeço demais a oportunidade e o carinho de todos vocês ;)

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