5 vezes em que Adriana Calcanhotto falou por você
Adriana Calcanhoto deixa os navegantes desavisados muitas vezes sem chão. Isso porque, ela com voz de balão*, dá vontade de ser música. Tanta coisa acontece enquanto se escuta essa mulher que já não dá mais pra caber só em um corpo, dá vontade de ser melodia e acordes. Você já sentiu isso? Pois então, eu sinto ouvindo Calcanhotto.
Nessa intensidade, percebi que o que acontecia era que ela conseguia falar o que ficava dançando aqui no peito sem conseguir sair. A primeira prova disso foi em Maresia, quando deu vontade de ter um amor em cada porto e o coração colado com cola de maresia.
1 – Maresia
Depois vem Esquadros, que tem traços de uma carta do Caio Fernando de Abreu endereçada à Adriana*. Ou seja, poesia escancarada. É linda, fala sobre o olhar a vida e as dores que podem estar envolvidas nisso. Ainda assim, temos a voz de Adriana nos aconchegando.
2 – Esquadros
Até que chega o dia em que saímos de nós e vamos morar no outro. Tem tanto desespero que Metade nos deixa em suspenso, sabendo dos freios perdidos e da única pergunta que queremos com resposta: “onde será que você está agora?”
3 – Metade
E isso tudo porque ainda “sinto o seu cheiro pela casa” e você não percebe que tudo que você demora é o que o tempo leva!
4 – Vambora
Depois de ter você é a minúcia que diz por si só. É pra ouvir apaixonado e cantarolar com um sorrisinho despretensioso no rosto.
Depois de ter você, poetas para quê?
Os deuses, as dúvidas,
Para que amendoeiras pelas ruas?
Para que servem as ruas?
Depois de ter você.
5 – Depois de ter você (com Maria Bethania)
Claro que fiz essa lista pensando em tudo que a Adriana já disse por mim, fazendo a síntese do substancial e básico de um jeito tão lindo. Da vontade de ser marinheiro, principalmente. E por você, o que a Adriana conseguiu dizer?
* Balão, por definição, é uma forma esférica que não necessita de sistema de propulsão para deslocar-se na atmosfera.
* “Berlim 01.07.93 (cartão)
Adriana C.
Minha sempre deusa, continuo andando pelo mundo, chorando ao telefone, prestando muita atenção, divertindo gente, a fome dos meninos da Yogoslávia nas ruas ricas da West-Berlim dói tanto ou mais quanto os nigrinhos do Rio, há dez meses acordo e não tenho ninguém do lado – os meus amigos, cadê? – Vou/irei à Tchecoslováquia, talvez Hungria, Jakarta, mas perdi alguma coisa no Brasil, ¨à tarde Maria dorme¨, tenho medo, matam turcos e a estrada é enorme, mas tua voz e tua música me aconchegam entre Paris/Amsterdam/Berlim/Praga/London/ tudo é muito igual e belos os alemãezinhos ao sol do verão fugaz deles. Te mando retalhos de amor. -Caio F.”
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