
8 motivos que provam que os anos 90 foram a Ă©poca mais bizarra
Oito do oito de oitenta e nove. Por quatro meses e alguns dias, eu nasci nos anos 80. Por quatro meses e alguns dias, eu tenho todo o direito de achar vocĂŞ, nascido nos anos 90, um verdadeiro baby. Por quatro meses e alguns dias, eu nĂŁo sou fruto da gera-gera-geração-anos-90-que-quase-se-arrebenta-de-tanto-se-esfregar. E muito embora a dĂ©cada de 80 tambĂ©m tenha sido muito bizarra em termos culturais – vide Xuxa abaixo, apresentando um programa para crianças com uma vestimenta adequadĂssima (?!) – algo me diz que eu nĂŁo nasci na dĂ©cada mais bizarra que esse nosso BrasilzĂŁo já viu.
Por “bizarra”, por favor, entenda estranha, sem nexo, nonsense, extravagante. Acho bom explicar porque o sentido original da palavra – acredite se quiser – Ă© quase diametralmente oposto: “nobre”, “distinto”, “bem-apessoado”. E mais do que isso: acho essencial explicar porque banalizamos o uso da palavra “bizarro”, encarando-a como uma gĂria coringa que cabe em absolutamente toda e qualquer situação. Tudo isso para dizer que nĂŁo, os anos 60, 70 e 80, os dolorosos anos de vigĂŞncia da ditadura militar brasileira, nĂŁo foram bizarros – foram violentos, desumanos, assombrosos, subtraĂdos do nosso projeto de democracia. Mas nĂŁo bizarros.
Voltando ao nosso propósito principal, que é trazer à tona toda a bizarrice dos saudosos – ou nem tanto assim – anos 90, vamos ao que interessa: uma lista com coisas que aconteciam na última década do século XX e que só nos chocam hoje. Porque assistir à Banheira do Gugu na sala com os nossos avós depois do almoço de domingo, na época, soava absolutamente normal (?!).
1 – Levar CDs do É o Tchan! para a escola para dançar no recreio
Na selva, no JapĂŁo, no HavaĂ, no Egito. Poderia ser aula de geografia fĂsica – ou apropriação cultural indevida – mas era pura diversĂŁo no recreio. Como se nĂŁo bastasse uma criança levar um CD do É o Tchan! pra escola, sempre tinha um(a) professor(a) daora que arranjava um radinho e botava a sonzeira pra gente ralar o tchan, olhar o kibe e rebolar esse corpinho de mola. Isso quando nĂŁo começava a sessĂŁo AxĂ© Bahia 94 e alguĂ©m invariavelmente arranjava uma garrafa pra gente… Sim, isso mesmo, ralar na boquinha.
2 – O Domingo Legal. De cabo a rabo.
Banheira do Gugu, Concurso Gata Molhada, Concurso da Boquinha da Garrafa, apresentações dos grupos de axĂ©: tudo, absolutamente tudo no Programa do Gugu era inadequado. Principalmente considerando o horário do programa. Na minha famĂlia, era regra: acabávamos de almoçar na casa da minha avĂł, sentávamos todos juntos no sofá e assistĂamos ao uba-uba-uba-ĂŞ, aos peitos saindo pra fora dos biquĂnis, Ă s passadas de mĂŁo descaradas. Vez ou outra, Ă©ramos tambĂ©m agraciados com apresentações inesquecĂveis, como essa da Companhia do Pagode. Spoiler: a dançarina acaba a performance de calcinha fio dental e com os mamilos APENAS pintados.
3 – A sinceridade da Xuxa
É claro que a nossa querida Xu nĂŁo poderia faltar nessa lista. NĂŁo sĂŁo poucas as pĂ©rolas que a trazem atĂ© aqui. VocĂŞs, que assistiram ao Xou da Xuxa, Xuxa Park, Planeta Xuxa e outros programas da nossa diva que se locomovia em uma nave espacial, sabem bem do que eu estou falando. E sem dĂşvida, uma caracterĂstica pessoal da Xu que condensa bem todas as coisas inacreditáveis que ela já fez na TV aberta Ă© a sinceridade. Como exemplo, Xu flertando com Ayrton Senna e dando beijo na trave num programa infantil. O que será que ele realmente quer de presente de Natal?
4 – Bat beg, o verdadeiro brinquedo assassino
Pra quem nunca brincou de bat beg, é o seguinte: dois fios de varal amarrados numa argola. Na ponta de cada fio, uma bolinha. A intenção é mover os fios de modo que as bolinhas translacionem em 180 graus, em sentidos opostos, e se choquem no ar – e quanto mais choques sequenciais e mais rápido você manipulava o brinquedo, mais dono da rua era. Pois bem, parece algo lindo, divertido e inofensivo. Só falta falar que as bolinhas eram feitas praticamente de chumbo – e há diversos casos de crianças que quebraram os dedos ou o braço quando erraram a mira e chocaram as bolinhas contra si mesmas. Certeza que você tem pelo menos um amigo que quase morreu de bat beg.
5 – Cigarrinhos de chocolate
Chocolate é um produto de grande apelo popular entre crianças. Então por que não fazer um chocolate em forma de cigarro? E por que não estampar a embalagem com um menino de doze anos fumando? Super correto, super adequado, formando cidadãos. Eita, publicitários…
6 – Bandas cantando músicas adultas em programas infantis
Outro fenômeno que hoje rende gargalhadas quando olhamos para os bizarros anos 90 são as bandas cantando músicas adultas em programas infantis. Como o Cascavelletes nessa memorável performance no programa da Angélica:
E a Gillete, artista de dance music norte americana, dizendo no programa da Xuxa que não curte caras de pinto pequeno. Atenção às crianças pulando alucinadas.
7 – Um mosquito chamado Dengue era mascote infantil
A dengue mata. E não é de hoje. Dizem alguns amigos cariocas que a epidemia de dengue no Rio de Janeiro nos anos 80 e começo dos 90 foi algo tenebroso. E bem na efervescência da doença, com um monte de gente morrendo, por que não transformar esse melhor amigo do brasileiro em mascote para ser adorado entre as crianças?
Sim, amigos: Xuxa de novo dando um show de adequação ao seu público-alvo.
8 – O sushi erótico do Faustão
Para terminar, uma pĂ©rola que marcou a minha infância. Se hoje o FaustĂŁo anda bem caĂdo, nos anos 90, Ă©poca em que os canais por assinatura ainda eram luxo no Brasil, assistir ao DomingĂŁo era um programa de famĂlia praticamente sagrado para marcar o tĂŁo temido fim do fim de semana. E foi em uma dessas tardes/noites de domingo que eu me deparei com o tal do sushi erĂłtico ao vivo: dois atores segurando hashis e comendo a comida japonesa que adornava o corpo de uma mulher nua. Foi tanto para a minha cabeça que, durante uns bons anos, eu achava que em todo e qualquer rodĂzio japonĂŞs a comida era servida sobre corpos de homens e mulheres pelados. SĂ©rio mesmo.
3 comentários abaixo sobre 8 motivos que provam que os anos 90 foram a época mais bizarra
Fala sério, voce só destacou as piores coisas (que alias, todo ano tem). Mas os anos 90 foram melhores, sem duvida!
Teoricamente a década de 90 começou em 1991, então ainda faltou 1 ano e 4 meses para você nascer na década de 90
Bat-beg. Todo mundo na minha escola tinha os antebracos roxos das pancadas. Inclusive eu