A delícia de viajar sozinha
Viajar sozinha dá uma tristezinha tão boa. Exige coragem, mas também um mindinho de solidão; porque viajar sozinha é se sentar à mesa de um café, abrir um livro e, enquanto as páginas avançam, sorrir para os ares, dilatando o seu espaço, abrindo vaga para o novo. Viajar sozinha é afrontar a timidez que atravanca uma futura amizade, atalha um possível amor, afasta aprendizados eternos.
Viajar sozinha é ler uma história, enquanto os calcanhares se afogam na água salgada, na companhia da cerveja que você gosta, do maiô que te veste e do gosto de uma porção de peixes fritos. Viajar sozinha é ler o mundo inteiro e não só o livro todo. É observar. Grudar os olhos ao redor e absorver as vidas dos outros, os conflitos dos outros, o carinho dos outros. Viajar sozinha é conhecer uma quantidade enorme de maneiras de agir e perceber que não praticamos nem um quinto delas.
Viajar sozinha não é chato. Viajar sem amigos, sem família e namorado não é chato mesmo. Eles estão pertinho, quando a voz de um cantor se espalha pelo bar e a gente pensa na falta que o namorado faz ou quando cruza com um grupo de amigos que ri sem controle, e aí você decide que na próxima arrasta todo mundo pra viajar junto.
Viajar sozinha é único momento em que o pau de selfie faz sentido. Pelo menos para os acanhados como eu, que não saem por aí falando com um mar de gente. Obrigada, invenção maravilhosa, que exacerba a vaidade de alguns.
Mas viajar sozinha é também não poder esquecer a bolsa na espreguiçadeira, enquanto a água gelada te toca daquele jeitinho. Mas é treinar a esperteza, colocar em prática aquele cursinho de teatro que você fez no colégio e inventar seus pais sentados ali debaixo do guarda-sol e devolver o tchauzinho imaginário que recebe.
Viajar sozinha é não precisar interagir se não tiver vontade. É poder passar três dias dizendo apenas o-cardápio-por-favor-obrigada e a-conta-por-favor-obrigada. Ou poder dialogar com qualquer um e testar aquela personagem do romance que está escrevendo. Meu nome é Diana e sou uma melancólica mulher em busca da paz. É poder almoçar a hora quiser, tomar café quando quiser, ir pro mar se quiser e pagar caro em um ímã de geladeira porque quer. Caminhar até o fim da praia torcendo para que nela não haja um fim.
Viajar sozinha é dar um tempo das contaminações da rotina. É quando a gente é do jeito mais puro. É se enfrentar no espelho e compreender o que vê. Viajar sozinha é tomar um banho da sua própria personalidade.
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