A última cama [+18]

Ele corria e não era como um gato que foge do cão, mas como um lobo que vai atrás da ovelha. Com bastante velocidade, finalmente ele alcança a mulher. É quando encosta seus braços nela, que acorda, pulando da cama.

Olhando ao redor, ele repara que está sob seus lençóis e sem roupa alguma. Sua respiração está ofegante, como se realmente tivesse acabado de correr. Para alguns aquilo, talvez, fosse um pesadelo; para ele era motivo de sorriso. E ele sorria maliciosamente com o canto da boca.

Já eram mais de 11h da manhã. Os trabalhos iriam começar. Pedro, um artista plástico, era fissurado por imagens eróticas. Seu trabalho refletia isso; as esculturas costumavam ter seios esbeltos, redondamente talhados para promover deleite. Quem admirava um quadro ou uma escultura do cara tinha uma certeza: ele se excitava – e muito – compondo aquelas figuras.

Nesse dia em específico havia visita agendada. Uma belíssima mulata de pele macia estava prestes a aparecer. O trabalho dela seria: posar nua para que o artista a retratasse. O material era uma tela com pouco mais de dois metros de altura.

Para Aline, uma negra estonteante, ficar nua era tarefa fácil. Difícil era ficar nua perto de Pedro e, ainda assim, conseguir manter o profissionalismo. Ela o conhecia há pouco tempo; nada sabia sobre aquele homem. Mas uma coisa era certa na mente dela: ele era do tipo que fodia quem quisesse.

De fino trato com as palavras, o artista tirava sorrisos femininos logo que começava a falar. Fosse pelo tom engraçado que dava aos papos, fosse pela malícia que destilava com olhar firme e intimidador.

– Aline, seu pé é lindo. Mudei de ideia. Não vamos mais pintar você nua, quero só esse pé todo lindo na tela.
– Jura? Nem vou precisar tirar a roupa?
– Vai, sim. Mas será à força, mais tarde. – Ele riu e cerrou o olhar logo depois.
– Vai brincando com fogo, pintorzinho sem vergonha.
– Sem vergonha, sim. Pintorzinho, não.

Como quem não quer nada, Pedro pediu licença e retirou uma das blusas da modelo. Deixando ela apenas de top.

– Agora você tira o restante.
– Com emoção ou sem? – Ela pisca ao dizer
– De forma que eu não consiga resistir e te devore antes de te dar cores na tela.

E assim ela o fez. Pediu música e luz mais baixa. O ateliê tinha sensualidade no ar. Com movimentos sutis nos quadris, ela sabia como promover uma catarse mental em um homem. Pouco homens tinham feito o mesmo por Aline.

– Que lingerie espetacular; mas por que essa produção sabendo que o quadro precisa da nudez?
– Porque eu sou mulher. A nudez vai estar no quadro e você, sempre que quiser, vai pegá-lo com a mão. As lembranças nunca poderão ser pegas. Guarda essa lingerie bem lá, no lugar mais molhado que sua imaginação permitir.

**

Natália se remexe inúmeras vezes na cama. Seu sono é conturbado, como se algo terrível estivesse acontecendo em seu sonho. E, de fato, era. Sucessivamente ela caía na linha do trem e era esmagada sem que pudesse fazer nada. Ninguém a empurrava, ela não se jogava. Apenas caía, morria e acordava desesperada.

Cansada e apavorada, ela acorda, olha para o espaço vazio na cama de casal e começa a chorar. Seu marido morreu há mais de um ano e Natália ainda se desesperava com a ideia de enfrentar, sozinha, o mundo.

Seus desejos andavam extremamente descontrolados. Em sonhos profanos, homens a invadiam sem pedidos de ‘por favor’. Sequer um ‘olá’, ela recebia. Homens fortes cujo rosto eram desfocados, mas que sentia seus corpos extremamente quentes e suados. Em um dos sonhos, um loiro bem vestido e sorridente a estuprou depois de algumas doses do melhor vinho português. Quando acordou do pesadelo, Natália não chorou; preferiu abrir as pernas, puxar sua calcinha de lado e deixar-se invadir pela delicadeza da própria mão. Pensando em cada traço daquele corpo violentador, ela se penetrava e se chupava. Dedos ágeis a preenchiam profundamente. Gotas do seu próprio mel eram degustadas pela língua safada daquela mulher jovem, linda e extremamente necessitada de um orgasmo para por a vida no lugar.

**

Foi sugestiva a cor escolhida para retratar aquela pele na tela: marrom sussurro era o nome da tinta que começava a brilhar naquele espaço em branco. De olhar atento, Pedro acompanhava o silêncio dançarino de Aline. Era grito o que ela não dizia. Um olhar reto daquela mulher se mostrava, ao mesmo tempo, um pedido e um crime. Uma poesia e um vulcão.

– Não se mexe mais que isso. – Assim o artista coordenava a modelo que estava posando para seu primeiro nu pintado. Ela havia sido ‘vítima’ apenas de fotógrafos, nunca de pintores.

E ele pintava com muito amor e fervor cada traço daquelas pernas bem abertas. Sua língua salivava mais que o comum. Aline não percebia; Pedro era discreto. Sua calça jeans, menos. O tecido judiava do pau que estava prestes a sair dali e terminar por conta própria aquela pintura.

A troca de olhares entre o voyeur artista e a exibicionista despudorada daria inveja a qualquer ator de cinema – pornô ou não. Ao perceber o tamanho da excitação de Pedro, ela resolve tocar-se. Ele, calmo e sedutor, apenas observa.

– Pê, é assim que você gosta de pintar suas musas? Quando elas ficam de pernas abertas é que você acha mais fácil de desenhar? Minha cabeça diz para eu parar de enfiar o dedo ass… ai. Minha cabeça diz pra eu parar de enfiar o dedo assim, bem fundo; que é pra você poder terminar seu trabalho. Você quer terminar o quadro hoje, Pê? Se quer, manda eu parar de bater. Manda, vai. Ordena pra eu tirar esses dois dedos de dentro de mim. Vem aqui e diz que não posso esfregar meu clitóris. Vem, seu cachorro.

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Sem saber muito um rumo pra tomar na vida, Natália decide apenas viajar. Monta uma mala prática e decide passar três dias em qualquer lugar que a faça se distrair. Que a faça voltar a ser linda por dentro e por fora, como sempre foi.

Ela separa na sua mala alguns biquínis pequenos, que já foram muito puxados por Isaac, seu antigo marido. Um dos biquínis – branco – teve seu forro recortado por Isaac. Ele não se importava de o mundo ver sua mulher exibindo suas formas na praia. Gostava é de ver o circo pegar fogo. Natália e seu marido eram praticantes assíduos de swing, a famosa troca de casais.

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– Olá, moça. Sua posição nesse exato momento é muito bonita. Posso tirar uma foto para te desenhar mais tarde?

– Nossa, claro. Mas tem certeza disso? Estou com tantas olheiras por dormir mal. Também tem um problema: já vou descer na rodoviária.

– Não se importe, sua postura é linda e merece registro. – E, sem flash, ele bateu a foto de Natália em pleno Metrô.

– Meu, tenho que descer nessa estação, já estou perto da rodoviária. Como a gente vai se falar mais?

– Eu desenho mulheres lindas nesse ateliê aqui. Vem me visitar. – Diz isso entregando seu cartão pessoal.

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Rapidamente Pedro começa a limpar toda a sujeira que fez. O vermelho se misturava com o marrom. A euforia se misturava com a angústia. O prazer da arte e do crime era momentâneo; logo quando terminava seus trabalhos, ele sentia um misto de sensações que quase o levavam à loucura: Quase chorava e quase gozava.

Mas naquela noite ele dormiria bem, foi novamente o melhor profissional na arte da sedução. Novamente o pior ser humano na arte do convívio.

**

– Qual a sua bebida, Natália?

– Eu quero uma taça de Baileys.

– Duas taças de Baileys, por favor? – Disse em tom educado ao garçom.

Pedro sabia o que queria de Natália. Natália sabia o que queria de Pedro, mas era fato: na prática, não havia superado completamente a perda do marido. Ele ainda a visitava em sonhos de sexo e de amor. Ele a visitava inclusive acordada:

– Nossa, você falou igualzinho o meu ex-marido agora.

– Você é separada, Nat?

– Não, sou viúva. Mas fique tranquilo, é assunto superado – Ela precisou blefar para não gerar um clima estranho na mesa.

– Sem problemas. Mas me diz: Por que Baileys?

– Aprendi que dá pra beber umas cinco doses e não perceber o calor que elas começam a causar.

– Você gosta do calor que uma bebida alcoólica traz?

– Gosto; também gosto do calor das pessoas. Gente de bom coração e gente sensual me atrai.

– Olha, só fico na mesa porque tenho bom coração. – E os dois gargalharam enquanto trocavam olhares de malícia.

**

– Nossa, se continuar assim, eu vou bater o carro. – Natália, após ter beijado Pedro por uma noite inteira, resolveu presenteá-lo por ele saber tão bem como usar a língua. Por ele saber sugar a boca dela com extrema volúpia.

– Não vai bater, não. Eu sou a única que bate aqui. – Aquelas mãos quentes e delicadas masturbavam o pau um tanto quanto grosso e grande. Pedro era do tipo chamado de ‘bem dotado’.

– Isso, então continua assim, sua safada. Põe ele inteiro dentro da boca, põe. – O boquete bem feito sempre foi o presente que o homem sedutor ganha no final da noite. Para os comportados: a cama de solteiro. Para os atrevidos e de atitude: a cama do motel.

Quando Natália entrou no quarto e visualizou a cama redonda, logo foi surpreendida por Pedro e suas mãos. Ele levantou o vestido curto, agarrado e preto. Passou a adorar aquela calcinha minúscula como quem venera uma divindade. E ela era. Loira, cabelos lisos na raiz e cacheados nas pontas, aproximava-se da imagem de um anjo. Um anjo perverso, como Pedro podia constatar.

– Isso, puxa assim de lado a minha calcinha.

– Caladinha, senão eu rasgo ela agora. Vou tomar controle do seu corpo todo, sua gostosa.

– Toma! Toma controle, escolhe a posição que devo ficar, faz eu implorar por mais, faz.

E aquela cama redonda foi palco de um sexo forte, com traços leves e constantes de submissão. Ela pedia para apanhar. Ele batia e a tapava a boca. Ela pedia para ele foder. Ele comia aquela buceta montando ferozmente sobre seu quadril. De quatro, ela se empinava e se contorcia. O pau entrava fundo e a fazia gritar. A fazia gemer.

– Ai, que gostoso esse pau enorme. Ai, fode assim. Fode, meu puto. Foooode.

– Adora socar o pau em putinha pervertida. Putinha que sabe se abrir, sabe o que quer.

– Sei, sim. O que eu quero é que depois você goze na minha boca. Vou deixar escorrer pelo canto só pra você me achar ainda mais vadia, tá?

– Você vai deixar escorrer se eu deixar, vagabunda. Se eu mandar, você engole, entendeu?

– Entendi. Vou te obedecer sempre, seu delicioso. Mas não pára, não pára.

Com os pés de Natália apoiados em seu ombro, Pedro suava e mostrava as veias latentes do antebraço. Ela tinha a perfeita visão que as mais putas adoram ter. E a perfeita sensação de que um gozo muito grande e muito intenso estava por vir.

– Pedro, seu cachorro. Se continuar a me foder assim eu vou gozar. Pedro, caralho. Não para, pooorra. Não para, ai, isso. Vemmmm…

– Cadela, vadia, putaaaa! Dá mais essa buceta, dá.

– Ai, aaaai, ai. – Seu corpo desfaleceu, sua alma sorriu.

– Gostoooosa. Já gozou? Nem tremeu tanto o quadril.

– Gozei tão gostoso, meu lindo. Não sou muito de tremiliques.

Desconfiado de fingimento, Pedro se frustrou, se enfureceu. Foi tomar um banho para ver se mudava de pensamentos. Natália estranhou: a raiva do artista era silenciosa. Se enxugou, não olhou para a mulher que acabara de transar e foi direto até sua maleta.

– O que você ta fazendo, Pedrooo?

O tiro foi seco, amansado pelo silenciador da arma. A testa de Natália escorria sangue ainda quente pelo exercício do sexo. O corpo nu iria começar a perder sua temperatura.

Assim como outras mulheres, Natália pagou pelo desejo que sentia. Devido a traumas e inseguranças, não sabia como explodir e, realmente, costumava fingir orgasmos para não broxar seus parceiros. Algumas mulheres pagam em vida – as vezes uma vida inteira – o preço de não gozar. O preço de Natália foi a morte. 

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