Ainda acredito no amor
Quando a gente se despediu pela última vez, tudo em mim doeu. Dos pés ao coração, nada ficou no lugar. Dos pensamentos às emoções, nada parecia que iria vingar outra vez. Mas preciso dizer, agora, o contrário do que disse antes – é impossível desistir do amor e continuar vivendo. Amar, gostar, se apaixonar e todas essas outras ações são tão involuntárias quanto respirar ou o pulsar do coração. A gente promete que – nunca mais – e quando nota, já é presente.
O pior do fim de qualquer história não é, de fato, que ela chegue ao fim. O ruim mesmo é chegar ao término com tantos sentimentos acumulados no peito. Com tantos desejos reprimidos. Com tantas promessas de – para sempre – rasgadas, rejeitadas e ignoradas. Deixadas para lá, como se quem as tivesse feito não tivesse a mínima obrigação de honrar as palavras. Talvez, de fato, quando a gente promete qualquer coisa apaixonado, uma cláusula escrita a letras minúsculas afirme: enquanto existir vontade.
E assim, como se a minha única obrigação fosse seguir em frente, dei um passo por vez rumo a um futuro incerto. Um futuro sem os sonhos que sonhamos juntos, sem os planos que fizemos de uma vida farta, sem as tuas mãos para me amparar, segurar ou empurrar para frente. Recomeçar, depois do fim de uma história, requer coragem. Digo coragem porque enfrentar o desconhecido dá medo. Voltar a se relacionar com qualquer pessoa dá medo. Aceitar que um novo sentimento pode estar brotando no peito também dá medo.
E eu enfrentei os dias que se seguiram depois do nosso último com medo, mesmo. Porque não poderia deixar que o fim daquela história significasse também o fim da minha vida inteira. Talvez, sem você, meus dias tenham mudado de tom, de cor, de forma, talvez eu seja hoje mais ou menos inseguro, apressado, desconfiado, imaturo, ciumento ou qualquer outra marca que o fim de um relacionamento sempre deixa na gente. Mas eu segui. Não me permiti ficar ali, eternamente, esperando que você pudesse mudar de ideia.
Ainda acredito no amor. Ainda sei que posso e vou me apaixonar. Seria mesquinho da minha parte desmerecer um sentimento tão nobre porque alguém não soube vivê-lo comigo. Seria pessimista demais dizer que – nunca mais – quando, na verdade, é muito mais fácil, seguro e menos doloroso aceitar que – com você, de fato, nunca mais – mas comigo, com alguém que me ame e me faça realmente feliz – para sempre – ou: até que um novo recomeço nos separe.
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