Alguém apaixonado por mim? Onde?
Hoje encontrei com uma amiga de anos – quase vinte anos. E comentando com ela sobre um recém termino de um quase relacionamento meu, ela disparou três vezes: “Ela tá se apaixonando”. Insisti que não, teimei, e ela impávida, ignorando minhas negativas. Por fim, ela falou, com a calma de quem me conhece há tanto tempo – e de quem foi meu primeiro amor: “Você sempre foi péssimo pra perceber quando as pessoas gostam de você”. Minha primeira reação, obviamente, foi negar. Mas pouco depois eu parei pra pensar e ela estava certa. Pra variar.
Como escreveu o Allain de Botton, para os que amam a certeza, a sedução não é terreno onde se deva entrar. Eu sempre tive esse problema: sempre fui péssimo em perceber sentimentos direcionados a mim. Eu sou capaz de acertar na mosca quando alguém está a fim de alguém, mesmo que seja a primeira vez que as pessoas se vejam. Mesmo que sejam estranhos na rua. Eu nunca erro. Nunca. Mas comigo é o extremo oposto. Só consigo saber se a pessoa fala – ou se toma alguma atitude que demonstre isso, como me beijar ou ficar calada durante um jogo do Fluminense.
E quando começo a flertar com alguém, um mecanismo detalhado e assustador começa a trabalhar dentro de mim: eu começo a analisar toda e qualquer ação da pessoa tentando encontrar sinais de que ela quer alguma coisa comigo, ou de que não quer. E eu nunca chego à conclusão nenhuma, e geralmente erro. Nas poucas vezes em que eu tinha quase certeza, errei de muito. Quando achei que a pessoa não fosse querer nada comigo, ela estava louca por mim. E quando achei que a pessoa gostava de mim, o que aconteceu recentemente, eu não podia estar mais errado. É uma espécie de maldição. A maldição de Midas: “Você vai conseguir perceber se duas pessoas sentem atração uma pela outra só de ouvi-las falando ao telefone, mas quando for com você, seu poder será anulado”. E é isso o que acontece.
Há algumas semanas retomei contato com uma menina por quem eu tinha uma paixãozinha na faculdade. Lembro-me que tentei de todas as maneiras possíveis e ela nada, definitivamente, ela não queria. Dizia que não era o momento etc. Voltei a esse assunto e, para a minha surpresa ouvi dela: “Você deveria ter me beijado. Eu teria deixado”.
É, se minhas janelas não tivessem tela por causa dos gatos, eu teria me jogado em cima do chafariz da portaria, pra quando encontrassem meu corpo, o legista falasse: “Morreu de arrependimento em primeiro grau. Fulminante”. Não sei o que me dá, eu fico completamente tapado e minha capacidade de analisar as pessoas – que é ótima – simplesmente tira férias de mim e me abandona.
E lá vou eu: “Mandou duas exclamações depois do ‘beijos!!’ – tá me querendo”; “Não me fez cafuné depois do sexo – não quer nada comigo”; “explicou sem que eu perguntasse que o amigo com quem ela vai jantar é ‘só amigo, não tem nada a ver’ – está loucamente apaixonada”. Errado, errado e errado. Eu já desisti. Não vou mais me iludir e vou continuar navegando às cegas. Às vezes eu acerto um iceberg, mas às vezes saio da tempestade sem querer. Na verdade eu pensei agora em me filmar com a pessoa e tentar analisar a situação de fora. Mas iam mandar me prender. Enfim.
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