Amar também é abrir a gaiola e deixar o outro partir
Eu era criança quando vi um passarinho preso em uma gaiola na casa do vizinho. Disseram que aquele moço gostava muito do seu canto e o queria por perto. Soou estranho, mas eu ainda não havia parado para realmente pensar sobre aquilo.
A gente sempre cai na ilusão de que amar é ter para sempre o ser amado ao nosso lado. Quem sou eu para negar que alimentei aquela fantasia de que quando encontrasse a minha pessoa no mundo, a que quase poderia fazer parar o meu coração, então ai sim tudo estaria completo. O amor seria suficiente para eternizar aquele laço.
E eu sei que a eternidade é tempo demais, não me julgue uma completa iludida. Mas o meu eterno, o meu para sempre, é todo aquele tempo que está no presente, no qual ainda existe o sentimento, o frio na barriga, a saudade de quem você acabou de ver, os olhares desejosos, as brigas por besteiras e as reconciliações carregadas de paixões.
Mas mesmo tendo observando aquele passarinho preso e sabendo que o lugar dele não era ali, eu ainda não tinha entendido o que era deixar ir alguém que eu amava. Como eu poderia amar tanto uma pessoa a ponto de deixa-la trilhar uma estrada que não mais me incluía? Como seria amar, ser amada e não estar juntos?
O tempo me ensinou que amar de verdade é se deliciar com a felicidade alheia, apesar dessa felicidade não estar mais ao meu lado. É ver a minha pessoa pegando o primeiro avião rumo a São Paulo em busca de uma realização profissional. Mesmo que essa conquista não me inclua mais. É dizer adeus aos braços que foram o meu lar, porque agora eles precisam carregar as malas até o Canadá por causa do intercâmbio dos sonhos, porém sem previsão de volta.
Deixar partir não é altruísmo. É só, e somente só, o fruto de um amadurecimento do amor em nível hardcore. Eu penei para aprender e hoje considero um dos processos mais dolorosos do amor. Mas uma hora a gente passa a entender que abrir mão de estar com alguém pode ser necessário para que ela não tenha as asas podadas. Às vezes o amar consiste justamente no ato de abrir a gaiola e deixar o outro voar.
No amor não há espaço para egoísmo. Com o coração repleto se coragem e saudade, você vai ter olhos brilhantes ao ver a sua pessoa desbravar o mundo; e um sorriso enorme no rosto ao perceber que aquele amor da sua vida realmente encontrou a felicidade escalando montanhas sem você.
Comentar sobre Amar também é abrir a gaiola e deixar o outro partir