Berlim: por que os "loucos" adoram?
Por que os loucos preferem Berlim?
“Quem não se horroriza perde a capacidade de detectar a estreiteza. Nossa insensibilidade se beneficia daquilo que não rompe, das ditas boas ações que não ferem os códigos da moral animal. Cada vez que fazemos o esperado, reforçamos um padrão humano automático de torpor. Existe em nós uma tendência de querer agradar a nós, aos outros e à moral de nossa cultura. Com isso vamos gradativamente nos perdendo de nós mesmos.”
Nilton Bonder – “A Alma Imoral”
Sempre que vem a pergunta sobre qual é a minha metrópole predileta no mundo, respondo sem pestanejar: Berlim! Um lugar dionisíaco, cheio de assombrações históricas e cicatrizes, que hoje se manifestam em forma de arte, grito e principalmente em grafite. Berlim é uma loira que se rebelou, pulou o muro imaginário, que pouco se preocupa com a sua reputação, que bebe cerveja como se não houvesse amanhã, que transforma tudo o que é obscuro em diversão bacante.
Já ouvi alguém dizendo que Berlim é um coletivo de Ruas Augustas e talvez essa seja a mais perfeita definição que já fizeram dessa cidade desparafusada em seu jeito de rebolar. Minha experiência em Berlim foi cheia desses deslumbramentos e momentos de volúpia marciana. Não à toa, fui parar numa estação espacial desativada a beira do Rio Spree. A “C-Base” é um lugar meio maluco, com uma decoração interplanetária, cabines de comunicação, senhores chapados falando sobre extraterrestres, vídeos de óvnis e reportagens ufológicas espalhadas pelas paredes. É uma abdução em pleno planeta terra com direito a um bar que vende uma cuidadosa seleção de cervejas europeias.
O Rio Spree parece cercado de mistérios, possui uma tristeza de outono, uma renúncia ao fácil, é uma dança sofisticada prestes a eclodir, é como se ele guardasse uma festa secreta em suas profundezas. Em uma pequena caminhada você pode achar uma tenda gigante envolvendo casino online uma praia improvisada, contendo areia, cadeirinhas e quiosque.
Você anda um pouco mais e se depara com a exposição de grafite na área que conserva o que restou do Muro de Berlim. E tem também uma piscina flutuante que abre sazonalmente durante todos os anos. Não sei se em Berlim tem cerveja porque faz sol, ou faz sol porque tem cerveja, mas ali o sol é um visitante cevado, louvado, o sol refresca o frio e não o contrário.
Investigar cada bar e descobrir surpresas inimagináveis. Tem um que é todo feito em homenagem ao cineasta Quentin Tarantino. O “Tarantino’s bar” com paredes autografadas pelo próprio diretor, drinks e Marguaritas inspiradas em seus filmes e claro, projeções da sua obra rolando a todo o momento. O “Z – Bar” é outro lugar surpreendente: possui uma porta dos fundos que dá acesso a um salão de festas de época onde diariamente acontecem sessões de cinema de mau gosto, todas feitas para quem gosta de filmes b. E que tal um bar itinerante a bordo de uma bicicleta coletiva. A “beerbike” é feita para reunir os amigos e dirigir pelas ruas tomando cerveja em grupo. E eu ainda nem falei das baladas: tem a “Weekend” que acontece no topo de um prédio em Alexanderplatz e têm as festas proibidas, aquelas que a gente guarda na galeria dos segredos de viajante e não sai contando por aí, porque tem partes da memória que ficam muito mais fantásticas quando ocultadas ao mundo mortal.
Se você é daquelas pessoas que sonham com universos improváveis, se você tem alergia à previsibilidade das coisas, se você já teve cabelo verde ou já misturou uísque com vinho mesmo sabendo que o resultado sairia horrível, talvez você deva visitar a capital alemã. Berlim é para quem mostra o dedo do meio pra plateia, para quem tem vontade de sair de pijama na rua, pra quem abraça o diferente e sente preguiça de um mundo regrado por quem acha que oprimir a diversidade é sinônimo de ser livre. Berlim é politicamente incorreta com os politicamente incorretos. É um deboche psicodélico feito para quem já entendeu que a gente não veio nessa vida para ser igual a todo mundo.
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