Calma. As coisas vão se ajeitar.
Escrever não é um exercício altruísta. Não é um ato de doação. Não é um esforço caridoso para transcrever os dilemas e angústias dos outros e assim lhes massagear o coração. Pode até ter gente de alma colorida e espírito encantado que escreva para isso, mas eu realmente desconfio que quase todo o mundo que escreve é egoísta demais. A gente só escreve para se entender. Para se traduzir e não sufocar. Lamento informar, querido leitor, mas não é sobre você. A gente escreve para se consolar.
Eu sei que pode até parecer, mas entenda de uma vez por todas que nenhum texto é para você. É tudo para a gente e sobre a gente. A gente escreve para afagar o próprio ego, para falar da própria vida e para ler quem a gente gostaria de ser. A gente escreve para falar da gente falando dos outros. Para se sentir foda por uns parágrafos. É truque batido. Jogo de palavras. A gente escreve porque precisa. Pura necessidade. Não é sobre se doar e nem poderia ser.
A gente se alegra quando você se lê no que a gente escreve, mas sinto informar que isso não tem muito a ver com bom-mocismo. Não é sobre ter um bom coração e uma aura de arco-íris. É sobre entender que todo o mundo sente meio parecido e sentir certo alívio com isso, sabe? É um sentimento meio zoado, mas a gente fica mais tranquilo quando percebe que tem mais gente na merda, né? Natural. A gente só não diz assim na cara dura porque tem medo de ser julgado.
Por isso, querido leitor, entenda que eu não estou escrevendo para você. Estou escrevendo porque preciso. Escrevo por necessidade e se por coincidência isso de alguma forma lhe servir, saiba que talvez esse seja um jeito extremamente egoísta da gente se sentir abraçado:
Calma! As coisas vão melhorar! Eu sei que às vezes a vida se emaranha de um jeito que parece não ter mais jeito, mas eu sinto, não sei direito por que, que com um pouco de empenho, fé e otimismo, as coisas, de um jeito ou de outro, hão de se ajeitar. Não sou profeta, sensitiva nem pregadora. Sou só uma boba egoísta mas você, assim como eu, talvez só precise acreditar.
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