Calma, você vai sair da casa dos seus pais. Por enquanto aproveita!

Acho que foi no meu aniversário de 26. Foi ali, cortando o bolo em clima de comemoração, que me bateu aquele desespero bobo da proximidade dos 30. Sei que bate em muita gente e sei também que conforme o tempo passa, só piora. Você vê amigo casando, amiga engravidando, colega de escola ficando milionário, conhecido entrando no BBB, primo mais novo comprando apartamento próprio, vizinha ganhando a vida em Londres e você lá, dormindo no mesmo quarto de decoração infanto-juvenil da casa dos seus pais.

É a velha armadilha da comparação. Entrou nela, você perde. Não tem erro. É sempre assim e é sempre assim porque quem está “ganhando” nunca se compara, né? Tão óbvio e a gente não percebe.

O que a gente não sabe quando está nessa crise do “ainda moro com os meus pais” é que existe muita coisa que não existe na casa do amigo casado, da amiga grávida, na mansão do colega milionário, na casa do BBB, no apartamento do primo e muito menos em Londres. Tem coisa que só existe na casa dos seus pais e eu não estou falando daquele clichê bobo da comida pronta nem da roupa lavada.

A roupa é o de menos. Umas três brusinhas manchadas depois você aprende a se virar. A comida também. A louça, a limpeza, a arrumação… Tudo isso é perfumaria. O que só existe lá é aquela conversinha fiada no fim do dia, aquele abraço carinhoso de boa noite e bom dia e aquele “Deus te abençoe” genuíno e preocupado sempre que você sai de casa, nem que seja pra dar um pulinho na padaria.

O que não tem fora da casa dos seus pais são aqueles conselhos assertivos sobre qualquer bobagem que aconteceu no dia-a-dia, as piadas de família, as fofocas sobre as tias e o aconchego de um colinho acalentador do fim de um mau dia.

Não tem abraço de pai nem beijinho de mãe na hora do desespero e não tem conversa fiada com os irmãos em alguma refeição que vocês consigam fazer juntos durante o dia.

Não tem a comidinha que sua mãe compra só porque você gosta, não tem piada repetida do seu pai, não tem gritaria de casa de família e não tem aqueles barracos bestas por causa de barulho, luz acesa, assaltos à geladeira e toda aquela intimidade maluca da qual, acredite, você vai sentir falta um dia.

Fora da casa dos pais existe um monte de coisas boas, felicidade e novas perspectivas, é verdade, mas é só lá que a gente desfruta da convivência que forma nossa personalidade. É só lá que a gente se sente totalmente protegido. O que ninguém conta é que é preciso aproveitar cada segundo convivendo diariamente com eles porque a porta de saída tende a ser definitiva já que esse é, afinal de contas, o fluxo natural da vida.

Saiba aproveitar e valorizar a rotina. Mesmo nos momentos em que eles te irritam e você os irrita mais ainda. Tá tudo no pacote e nada é mais gostoso do que isso. More com os seus pais e não entre em desespero para sair. Quando sair vai ser doloroso e você vai sofrer um bocado, mas logo você se acostuma e percebe que aquela vai ser sempre a sua casa. É o velho clichê. Lar é onde o coração está e o seu, irremediavelmente, estará sempre lá. Ali você nunca será visita.

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