Cicatrizes
Não pense que é assim completamente rotineiro pra mim: eu nunca gostei tanto de cicatrizes antes. As suas parecem desenhos, que me lembram o tempo todo não existe no mundo inteiro alguém que tenha dois furinhos logo acima da barriga. No mundo inteiro. Em nenhum dos planetas esquisitos dos livros que você sempre lê. E eu acabei de te dizer que tentei ler algumas frases desse de agora, em inglês mesmo, pra ver se entendia. E aí eu percebi que ou não sei nada de inglês ou você gosta mesmo dessas maluquices. Você tem furinhos na barriga e gosta de maluquices. Parece que você foi feito pra mim.
E eu sempre quis te dizer que é meio estranho mesmo gostar tanto do seu pé. Pé de homem geralmente é um negócio esquisto. Mas o seu é tão bonitinho com as veias saltadas. Eu te dei um chinelo de couro, porque eu quis poder ver o seu pé mais vezes e porque a gente tem esse jeito meio velho de se presentear mesmo – ou você esqueceu que trocamos chinelos de pano?.
Eu gosto tanto de quando você ri de gargalhar. Você fecha os olhos com força, mas mostra que os seus dentes são perfeitamente emparelhadinhos sem aparelho e eu penso como eu amo você porque não tem nada que seja artificial – nem o seu sorriso, nem o disfarce das suas cicatrizes (já disse que amo suas cicatrizes?).
Acho que é isso que eu amo, no final das contas: você não se importa em ser amado ou odiado. Não se importa com silicones, maquiagens, disfarces. Você diz que eu estou linda quando acabei de acordar e eu te acho maravilhosamente atraente de pijama.
Eu amo as suas cicatrizes. Porque elas são exatamente como você diz que são meus olhos quando eu acordo: de verdade.
“Eu quero ser a cicatriz risonha e corrosiva, marcada a frio, a ferro, a fogo, em carne viva”
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