Como dizer adeus a Katniss?

Acabou.

É triste quando algo que a gente gosta tanto chega ao fim. Sempre que um ano começa o meu calendário cinéfilo marca mentalmente os acontecimentos importantes de cada mês. Novembro foi especial nesses últimos anos, justamente porque apontava um novo episódio da saga de Katniss (Jennifer Lawrence) e Peeta (Josh Hutcherson). Alguns momentos emocionantes dessa trajetória jamais irão sair da minha memória. A frase “que comecem os jogos”, Katniss se oferecendo para participar dos jogos no lugar da irmã, a turnê da vitória, o vestido que pega fogo, as entrevistas sobre o namoro fake entre os protagonistas, o painel que vai mostrando quem morreu a cada dia, o momento em que a senhora mais velha resolve desistir dos jogos e é engolida pela fumaça para facilitar a vida do grupo e algumas flechadas decisivas, como a do último filme (não vou entregar).

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Assisti ao trailer da última parte umas mil vezes, e nunca vou me esquecer de Katniss dizendo a rebelde frase: “Nessa noite, mirem suas armas para a capital”. Jogos Vorazes me deixou ser adolescente por mais algum tempo, foi uma saga que apesar de tocar em um futuro distópico, contemplou diversas perspectivas atuais, principalmente no que se refere aos sistemas de dominação e a postura dos jovens em relação a isso.

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Katniss Everdeen vai fazer falta. Uma garota que vira o símbolo de uma revolução contra uma elite sádica, opressiva e cruel. Acho que poucas vezes vimos de forma tão representativa isso acontecendo no cinema. Uma heroína de poucos sorrisos, que ainda assim empolga as massas, que não é corruptível, que toma a frente das batalhas e que por diversas vezes salva a pele do seu amigo colorido – o personagem frágil é um homem. Uma personagem que reforça o empoderamento feminino em um momento tão emblemático no que diz respeito ao nível de influencia e protagonismo da mulher na sociedade.

Embora secundário, confesso que um dos aspectos mais marcantes da história contada por Suzanne Collins é justamente a amizade entre Katniss e Peeta. É, no fundo, um romance entre amigos, que vão aos poucos se apaixonando de maneira torta, e então o altruísmo vai se tornando parte importante da relação entre os dois. Algo que ultrapassa as delimitações comuns, já que paralelamente, Katniss tem um namorado (Gale) quase que decorativo na história. É como se o laço entre ela e Peeta ultrapassasse o sentido formal de um romance; Tudo o que importa entre os dois, é alheio a uma classificação. O sentimento vai acontecendo sem exclamações.

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Olhando os quatro filmes em um parâmetro geral, fico com a emoção de arena dos dois primeiros. Nos dois episódios finais, o que se sobressai é o jogo de manipulação em cima da protagonista e a revolução assumindo um caráter mais caótico e fora do controle. A “conclusão épica” deixa um sabor empolgante sim, e também uma sensação de que eleger inimigos é problemático quando o que está em jogo é o poder. Olhar apenas o lado oposto pode significar um tipo de cegueira. Uma das lições mais importantes que essa franquia deixa é justamente a reflexão sobre alienação. Costumamos rotular como alienado geralmente quem pensa de forma oposta a nossa, quando na verdade a pior alienação é a nossa incapacidade de olhar de forma crítica pro nosso próprio lado. A arquibancada assumindo uma importância maior do que a questão em debate. Você já viu esse filme.

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É com um aperto no coração que eu me despeço do tordo, dos distritos, e desse universo de aventura e ousadia que tanto nos empolgou nos últimos anos.

“Nosso futuro começara ao amanhecer”. Adeus Katniss.

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