Como é difícil não falar da vida dos outros, né?

Puts, é difícil demais. A gente faz propósito na quaresma, se espiritualiza, trabalha, estuda, viaja, presta serviço voluntário, paga boleto e se ocupa por todos os lados, mas parece que o tempinho para falar da vida dos outros é sempre preservado e intocado, né?

A gente gosta tanto de falar da vida alheia que eu desconfio que isso seja um lance um tanto natural. Que talvez seja meio intrínseco à nossa humanidade esse desejo de ser porta-voz do babado. Desconfio que seja um misto de vaidade com curiosidade e uma vocação natural para Sonia Abrão que nasce com a gente e é bem latente.

Eu desconfio de tudo isso e sei que repercutir sobre a vida dos outros às vezes é um entretenimento bobinho e bem gostoso. Sei também que esse talvez não seja o pior dos pecados, mas eu sinto – e juro que não é em tom de lição de moral – que às vezes isso vira um vício tão desgastante que é preciso se policiar para reexaminar os nossos assuntos e avaliar a frequência com que a gente se ocupa de temas que não dizem respeito a nós mesmos.

A real é que especular sobre a vida alheia de vez em quando é um tanto inevitável. Espalhar acontecimentos, fuçar o instagram, falar mal da vilã do BBB. Tudo isso faz parte da nossa humanidade e quem sou eu para julgar se formei meu caráter assistindo TV FAMA e lendo o Ego, né? Eu não sou ninguém para julgar os fofoqueiros de plantão, mas posso afirmar sem muitas dúvidas que os momentos em que os acontecimentos mais importantes da vida estavam se materializando foram, coincidentemente ou não, aqueles em que eu, inconscientemente, menos me ocupei em falar, especular e julgar a vida dos outros.

Foi nos momentos em que eu mais estava centrada em mim e nas pessoas que amo que tudo fluiu e aconteceu rápida e naturalmente. Foi nos momentos em que eu nem me lembrava da vida alheia que minha vida mais desabrochou. Foi nesses momentos que a minha felicidade deslanchou e eu sugiro, em tom de alerta e não de repressão, que vocês façam esse exercício de falar mais das suas ideias, das suas vidas, dos seus hábitos, dos seus namoros, dos seus amigos e das suas mudanças. Sugiro que vocês tentem perceber essa mudança empiricamente e vai que a vida melhora, né? A gente aprende tentando e a real é que não custa tentar.

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