Dança para mim? [+18]

– Dança para mim? Eu disse para ela, enquanto estávamos deitados na cama, naquele lençol que cobria somente uma de nossas pernas. E mesmo sabendo que ela morreria de vergonha ao ouvir isso, resolvi, sem pudores, dividir uma de minhas vontades. Quando nos relacionamos com alguém que não temos vergonha de dividir os nossos desejos, as nossas loucuras ou fantasias mais obscuras, sabemos que estamos no caminho certo. Ela sempre foi muito envergonhada, e por isso mesmo, questionei se ela poderia dançar para mim. Não só pela dança, ou unicamente por mim, mas porque eu queria tanto que ela se libertasse, aos pouquinhos, dessas algemas que tinha em volta do corpo. Queria que ela aprendesse a se entregar, não exclusivamente para mim, mas para ela mesma. Ela precisava se sentir bonita, atraente, segura, mesmo quando os meus olhos brincassem de polícia e ladrão com o seu corpo.

Lembro de um dia em especial que fizemos sexo no chuveiro. Talvez, só de ler isso, ela já morresse de vergonha. Nesse dia, no meio de um sexo comum, daqueles feitos na cama, em posições triviais e com previsão para acabar ainda em horário comercial, perguntei: vamos fazer sexo no chuveiro? Indaguei com os olhos, pois, com palavras, estaria dando muito tempo para ela pensar e ponderar a situação; e ela é daquelas que precisa ser levada, não questionada se gostaria de ir. A peguei pelos braços, liguei o chuveiro, demorei um pouco até acertar a temperatura – seria injusto deixá-la passar frio – e dei continuidade aos beijos como se nada tivesse acontecido. E tudo aconteceu. Entre a água que corria pelo seu corpo e o olhar pensativo se realmente iria molhar o cabelo ou não, o mais gostoso foi, durante o sexo na água corrente, vê-la não conseguindo se apoiar em nada, com as mãos trêmulas, deslizando entre os azulejos úmidos, perdida, de olhos fechados, em busca de algo para se segurar. Naquele momento ela estava inteiramente ali, presente, vivendo o que deveria ser vivido. Se ela soubesse o quão lindo foi vê-la se entregando sem se questionar, confiando em mim, mas, principalmente, confiando nela mesma.

Mesmo após várias aventuras e redenções como essas, ela ainda tem receio de muita coisa, inseguranças que, dia após dia, tento tirar com as mãos. Aos pouquinhos ela vai me dando brechas, breves espaços, para mostrar que uma mulher bonita por dentro, quando tem as suas vulnerabilidades colocadas com segurança no varal do coração, também se torna uma mulher bonita por fora. Desenraizar as inseguranças de uma mulher é uma das coisas mais bonitas que um homem pode fazer. Não que tenhamos todo esse poder, longe disso, mas, se pudermos ajudar a quem amamos, por que não o fazer? E eu amo tanto ela…

Pessoas que dançam, se entregam e cantam no chuveiro o que sentem, são lembranças e momentos que, convenhamos, seriam desperdícios, caso não fossem vividos. Por isso, sempre que tenho oportunidade, a digo: como me segurar para não cantar, mesmo que um pouco desafinado, o que sinto por ti? Como viver intensamente esse amor, sem deixar o medo de se entregar por debaixo da cama? Como ser feliz amando, sem deixar claro que você também está sendo amada?

Até hoje ela não dançou para mim. E mesmo assim o meu coração ainda dança em ritmo de carnaval por ela. Espero que um dia ela dance, e dance muito, não por mim, mas por ela, só, e exclusivamente, por ela.

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