Descobri que o meu grande amor está prestes a se casar

por Ricardo Coiro

Pode me chamar de brega, de bebum ou de “Reginaldo-rossiano”, eu juro que não ligo. Hoje, o meu problema é muito maior: descobri que o meu grande amor está prestes a se casar e, diferente do que ocorre na música “Garçom”, ela não me avisou por carta. Aliás, ela nem sequer me avisou. Acredita? Como diabos eu descobri? Vi no Facebook. Quando percebi, como um detetive profissional, eu estava xeretando o mural dela e relendo, pela décima oitava vez, a mudança de status que dizia: “Bruna ficou noiva de Mario”. Se eu conheço o Mario? Claro que não conheço o filho da puta! Só sei que ele vai comer a mulher da minha vida atrás do armário. Se é que ainda não comeu. Agora eu odeio até o Mario Bros. Descobrir que ela vai se casar doeu mais do que morder, sem querer, a parte interna da bochecha. E incomodou mais do que um pedaço de picanha que, nem com fio dental e reza braba, quer sair do meio dos dentes.

– Garçom, por favor, uma dose de cachaça, uma de Campari e um Rabo de Galo.

– Qual eu vou beber primeiro? Por favor, traga tudo de tudo de uma só vez. Hoje eu vou me embriagar!

– Nem um chorinho? Hoje eu preciso ver o copo cheio, já que o meu coração, como pode perceber, parece que esvaziou de vez.

– Isso mesmo, deixe a mão pesar. Vire bem a garrafa! Capriche! Esqueça o dosador e seja generoso com a minha dor. A vida já me parece dose demais.

– Se eu dormir? Deite-me no chão. Se eu arrumar briga? Chame a polícia. Se eu mexer com alguma mulher comprometida? Não vai acontecer. Nesta noite, nem ao puteiro com tudo pago e direito a acompanhante eu quero ir.

– Como é que ousa dizer que eu não tenho motivo para beber? Ela vai se casar! Eu vi no Facebook dela.

– Do que está rindo? Hein? Tem alguma placa de proibido chorar por aqui? Não estou vendo!

– E sabe o pior? Eu também dei uma fuçada no Facebook dele, do Mario.

– Como ele é? Para que você quer saber isso? Hein? Tudo bem, eu falo: ele é do tipo que possui bíceps grande e que só deve comer gordura em uma refeição da semana. Sabe? Sabe nada. Posso contar o pior? Ela vivia dizendo que não gostava de homens fortes e que preferia os assim como eu, magricelos. E agora inventou de casar com um bolado! Não dá raiva? Seja sincero, Adamastor.

– Mais uma dose de cachaça.

– Eu odeio o Mario!

– Mais uma dose, agora dupla, de cachaça. E mais um Campari também.

– Dá pra acreditar que ela vai se casar com um bolado? Seja sincero comigo! Não minta pra mim, por favor.

– Como assim o braço dele é maior do que o meu? E daí? E o tamanho do amor? Foda-se o amor? Não diga isso!

– Você, por acaso, não tem absinto? Ok, então me traga a garrafa de cachaça, por favor.

– Como assim acabou a cachaça? Eu estou vendo daqui.

– Não posso mais beber? Achei que eu estava em um bar. Não estou vendo freiras por aqui! Só mais 3 copos e eu paro. Fechado?

– Poxa! Eu prometo que me comporto, pode ser? Vai, por favor.

– Valeu! Você, seu Adamastor, é como se fosse um irmão para mim. Eu amo você, sabia?

– Você colocou água na minha cachaça? Não mesmo? Jure pelos seus filhos? Sabia!

– Eu vou ligar para ela!

– Por que não?

– Eu vou ligar!

– Alô, quem é?

– Mario?

– Não interessa quem eu sou! Eu quero falar com a Bruna. Passe o telefone para ela!

– Não vai passar? Quer perder os dentes? Quer morrer?

– E daí que você é da polícia e que pode rastrear a minha ligação? Acha que eu tenho medo de coxinha?

– Quebrar a minha cara? Vai se foder, seu bosta.

– Acha que eu tenho medo de você e das suas ameaças? Eu sei que não sairia daí só pra apanhar!

– Alô? Alô? Não desligue na minha cara, seu merda! Alô? Tá aí? Chame a Bruna! Alô…

– Seu Adamastor, acredita que o Mario atendeu ao telefone dela e que ele desligou na minha cara?

– Fechou a minha conta, já? Mas eu não pedi e ainda tenho direito a mais dois copos de cachaça!

– Poxa, Adamastor. Quebra essa!

25 minutos depois…

– Adamastor, já sei! E se eu pagar o dobro por cada copo, hein? Que tal? O triplo! Pago a escola dos seus filhos? Só mais um! Meio copo? Um gole?

– Cara, pare de me cutucar, não percebe que eu estou tentando negociar com o seu Adamastor?

– Adamastor, eu imploro. Só mais um copo e eu vou pra casa! Só mais um!

– Não está percebendo que eu estou conversando com o Adamastor aqui? Então pare de me cutucar, seu pentelho.

Foi a última coisa que disse antes de ser nocauteado por um anel de noivado de ouço maciço. Aquele que me cutucava, insistentemente, era o Mario, mas, quando eu percebi, eu já estava no chão.

Acredita nisso? Além pedir a mulher que eu amo em casamento, ele ainda teve a coragem de me nocautear no bar que eu frequento. Foi mais humilhante do que apanhar de amante.

Preferia não ter conhecido o Mario.

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