E se der tudo errado?
Em noites solitárias como a de hoje, as paredes do hotel parecem mais melancólicas que o normal. Nada de barulho nos quartos ou nos corredores, nenhuma cor além de um branco deprimente ao meu redor, nada do meu celular vibrar com a mensagem de alguém. Pra ser sincero, eu só queria aquelas duas palavras de um nome composto saltitando na minha tela inicial – o seu nome – acompanhado daquelas cinco letras mais clichês do universo. Hoje não. Hoje é só uma canção que eu ouvia quando estava triste há uns anos atrás e que veio a calhar pra esse momento. Não sei se é a distância de casa ou falta de alguém pra desabafar. A solidão sempre me foi uma companheira interessante para encontros comigo mesmo. Agora ela me sufoca e me faz repensar em absolutamente tudo.
Eu, que sou todo sonho. Eu, que sou todo vida. Eu, que sempre tenho certeza, me pego aqui duvidando das velhas convicções que carrego comigo. Eu, que planejo cada passo, começo a encarar minha face no espelho e vai ficando impossível ignorar uma certa perguntinha impertinente dentro do meu mais íntimo eu. E se der tudo errado? Será que serei capaz de suportar a pressão? Como fui capaz de cometer um erro tão infantil quanto planejar tudo sem contar com as probabilidades de erro… Perigo à vista. Risco parcelado, juros sobre minha personalidade. Devo eu ser liberdade? Ou eu devo por ser livre? Faltou responder uma porção de perguntas e sequer sei se estou mais perto de estar certo ou errado.
Hoje ninguém ia estragar meu dia, mas a gente acabou discutindo por mais um motivo bobo. Bobo? Se a gente divergiu deve ter sido por um boa razão. O problema é que eu não consigo enxergar uma briga sem ser como algo a ser evitado. Meu negócio são os bons combates, desses eu entendo e sei como ganhar. Quando eu sou batido nos combates que a vida traz sem eu ter ido buscar, volto a me deprimir por pouca coisa. Meu exterior é alegria, meu mundo é colorido. O que me assusta é a hora de fechar os olhos; sem enxergar cor nenhuma caio na escuridão de encarar meus medos e coisas que não quero atrair. A lei da atração é irrefutável e essa crença me faz viver numa incessante corrida malfadada. Tento ocultar tudo que eu puder… Eis que me dou conta:
– Mas que burrice!
Ocultar só adia o inadiável. Quando a vida traz a conta não adianta se esconder. Se minha personalidade livre às vezes se perde nas curvas por andar numa velocidade alta demais, me resta deixar aqui um pedido de desculpas acompanhado de uma velha desculpa que talvez não seja mais um argumento bom o suficiente para quem recebe. Que seja. É a verdade: Eu não fiz por mal. Não existe maldade nas minhas intenções. Quero apenas viver da forma mais intensa possível, nem que o preço a ser pago seja algumas lágrimas e cacos de vidro estilhaçado nas batidas.
Mas e se der tudo errado? Bom, aí a gente tenta de novo. Se derrubarem, a gente levanta. Se destruírem, a gente constrói ainda melhor. Se disserem que não, a gente prova que sim. Se eu me perder do caminho, encontro um atalho pra volta. E se a sua mensagem não chegar ainda hoje, eu passo por cima do orgulho e da simplória tentativa de saber quem errou primeiro. Se sua mensagem não chegar, eu deixo a minha aqui mesmo.
Te amo.
(E isso pode ser traduzido como: no final tudo sempre dá certo).
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