E se eu não quiser ser a sua alma gêmea?
A gente cresce acreditando que a missão da vida é encontrar a tampa da nossa panela. Eles disseram que me faltava a metade da minha laranja. Que mais cedo ou mais tarde eu deveria encontrar a minha soulmate. Eu ainda sigo acreditando na probabilidade de ter nascido uma frigideira. Talvez a metade da laranja tenha estragado no caminho. Será que minha alma gêmea ao menos já nasceu?
Quer saber? Essa espera não me incomoda. Nem deveria incomodar você.
A nossa busca não deveria ser por encontrar uma metade. Desde quando as metades bastam a alguém? Eu quero ser completa primeiro e encontrar alguém tão disposto a ser inteiro quanto eu.
Ah, e quanta preguiça de toda essa responsabilidade que idealizaram para a minha alma gêmea. Não sei nem quem é (ou se existe), mas já sinto uma pena danada do papel que o universo impõe a ela na minha vida. De repente, ao ser a metade de alguém passo a ser responsável por aquilo que era o papel da família, do amigo ou do irmão. Agora a alma gêmea precisa cuidar da minha saúde, ser meu melhor amigo e não esquecer de que a minha felicidade depende dela.
Mano, quanta responsabilidade para uma alma só! Quanto peso nos ombros de um ser humano. É ai que percebemos sem surpresa o motivo para tantos relacionamentos não durarem. Depositar em alguém as responsabilidades da minha própria individualidade é sinal claro de decepção futura.
Eu não quero ser a alma gêmea de ninguém, muito menos que alguém me queira assim. Não quero alguém exatamente igual a mim, quero uma tampa de panela pequena demais mas que com equilíbrio encontre o encaixe perfeito para fritar o meu bife.
Não, eu não quero encontrar a minha metade; quero alguém completo e que me leve a novos caminhos. Não quero que a felicidade de alguém esteja nas minhas mãos. Afinal, eu mal sei onde encontrar a minha. Vou tropeçando pela vida em busca do prazer nas coisas que vêm pelo caminho.
Quero ir inteira, responsável por mim, ao encontro do inteiro de alguém responsável por si. Quero as trocas de amor, as trocas de afinidades, as discussões por diferenças bobas, o respeito e a cumplicidade. Quero a intimidade de olhar nos olhos e a certeza de uma felicidade que transborde.
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