Ele não disse que a ama

Fizeram tudo juntos. De dieta do alface a sexo tântrico não houve nada que faltasse. Experimentaram todas as inconveniências siamesas de casal apaixonado e deleitaram-se na sincronia de seus revirares de olhos demorados.

Esparramaram-se nos corpos um do outro. Viajaram. Se aninharam. Choraram juntos e não foi pouco. Compartilharam um quilo e meio de sal. Fizeram tudo no plural. Mesmo assim ele não disse que a ama.

Dizem que ele tem medo. Que a palavra é muito forte. Que é melhor não se precipitar. Amor é o que ele sente pela mãe, pelos livros e até pelo trabalho. Por ela não. Por ela deve ser apenas um gostar. Ainda que ele quisesse conquistar todo o tempo do mundo contemplando-a respirar, ainda era cedo demais para falar em amar.

Na inquietude da etiqueta antiquada que a fazia esperar, ela questionava que tipo de sentimento é esse tal de amor se não é dito no calor. Se é necessário medir para falar, não é sentir, é calcular. Sentimentinho mequetrefe que as pessoas economizam para expressar.

Ele repetia que o que eles viviam valia mais que mil palavras; que não era necessário verbalizar. Tolo ele que subestimava o calor que as palavras conseguem transportar. Mal sabe ele o reconforto que um eu te amo bem vocalizado é capaz de proporcionar.

Por fim ele não disse que a ama. Ele chorou no banho; ela na cama. Quando o tempo passou, ele finalmente nomeou o que tão antes experimentou. Ele queria dizer que a amou. Tarde demais. Ela passou.

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