Enquanto houver paixão
Caminho. Esbarro na paixão. Agarro-a logo de cara, com pavor de perdê-la em meio à multidão fervilhante da metrópole. Com ela, embolo-me, enlaço-me e misturo-me, como quem busca a fórmula para feitura de um nó indesatável. Continuo a trilha da vida. Agora trafego com ela em mim, escorrendo de cada poro, pairando dentro de toda veia. Dessa vez os sons soam mais bonitos, pois minhas mãos estão dadas, assim como meu peito, minha alma, minha calma, minha inquietude. Tudo foi dado, entregue, ou melhor, inevitavelmente roubado por essa tal paixão.
A mesma árvore, cuja espinha dorsal ontem parecia estar prestes a quebrar devido à fúria dos ventos, hoje, repousa sólida, cheia de postura e apresenta-me cabelos floridos. É inverno, mas vejo pétalas na copa, pétalas no chão, pétalas dentro de mim. Não preciso mais da primavera, não para sorrir. Posso parar em qualquer estação e sei que lá, onde quer que lá seja, a paixão fará o favor de estar para perfumar meus horizontes.
É provável que a paixão um dia esbarre em outra e por isso, talvez o nosso nó desate. E se isso acontecer, talvez eu volte a precisar da primavera. Talvez eu quase morra congelado no inverno. Talvez, mas e daí? Talvez, um dia eu volte a caminhar sozinho por ai, mas hoje, agirei como minha mãe ensinou: farei com que ela sinta-se segura ao meu lado, na calçada, deixarei a paixão sempre longe dos carros e assim, caminharemos juntos. Até onde houver cor. Até onde houver nós. Enquanto houver paixão.
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