Eu não sou tudo isso

E talvez ninguém seja. Não importa: eu não sou. Eu não sou tudo que penso ser. Não posso me encaixar na cegueira de me considerar uma pessoa que erra menos que qualquer outra. A gente cai de uma ou outra volta que o mundo dá. Eu tenho percebido que me comparei com tantas pessoas. Enumerei tantos poréns para que eu me destacasse de alguma maneira. Notei que eu desejava ser melhor ao invés de ser eu mesmo.

Eu não sou tudo isso também. Tudo isso que quero provar ser. Tenho minhas qualidades, mas também, olha, tenho uma boa porção de defeitos. Eu preciso me aceitar mais e me cobrar menos.

Tem um negócio que confunde a gente e atende pelo nome de: vontade de fazer as coisas darem certo. É, eu sou esse tipo de gente – e me pergunto: quem não? Só que ser esse tipo de gente não me faz alguém melhor ou pior que outro alguém. E me guiar só pelas minhas qualidades me faz alguém que pouco aprende.

Por exemplo: Eu sou meio grude sim. E sei que isso nem sempre é tão bom quanto penso. Sei que até meus melhores carinhos podem asfixiar quem precisa ficar um pouco sozinho – é que eu esqueço que por mais louco que pareça, nem as coisas boas são tão boas assim a todo o tempo. Sou eu e minhas boas intenções se transformando em más atitudes.

Eu não sou tudo isso também. Eu já machuquei quem me quis bem. E “não ser por querer” não ameniza a dor. Eu rejeitaria esse tipo de consolo. Estou precisando acalmar a minha alma. Tenho essa mania de atropelar meus dias só por querer viver tantos sentimentos que guardo no peito, só por querer tanto que sintam o que sinto. Eu também não quero me justificar, não quero culpar meus sentimentos pelo meu jeito. O momento é de revisão. Eu preciso colocar os pés no chão antes de desejar que coloquem as mãos no meu coração. Eu não sou tudo isso.

Tem dias que eu mesmo não me suporto. Já briguei por motivos que me fazem envergonhar e já investiguei milhões de pêlos em ovos. Pelo menos acredito que ao admitir que não sou tudo isso eu também consiga aceitar o quanto sou real. Não que eu não me considerasse antes, não que eu não me sinta alguém de verdade, mas passei algum tempo me achando a última bolacha do pacote enquanto, na verdade, o pacote estava vazio.

Eu não sou tudo isso. E hoje eu vejo. Hoje eu entendo. Hoje eu aceito. Mas eu estou continuando; eu estou seguindo. Eu não quero ser tudo, quero ser parte todo.

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