Estou grávido

Vira e mexe me pego com vontade de ter um filho. O problema é que eu queria um filho só meu. Saindo da maternidade, o resto seria comigo: educação, escola, reunião de pais, plano de saúde, atividades extras… Enfim, tudo seria comigo. A mãe? Pois é, a mãe. Esse é o motivo que me faz desistir toda vez que penso em ter filho. Eu quero fazer o filho, quero que ele tenha o meu DNA, mas não queria que viesse com bônus. Dispenso.

Meus amigos vivem me aconselhando a contratar uma barriga de aluguel ou torcer por uma descoberta bombástica da ciência, do tipo: “A partir de agora, homens podem engravidar de si mesmo”. Como essa segunda hipótese é insana, me restou negociar barrigas. Mas aí vem o conflito: como se tratou de um negócio, ou seja, eu paguei por um filho, fico logo imaginando a mulher me colocando na justiça, exigindo a guarda, dizendo que pensou bem e agora quer o filho pra ela, aí desisto. Não quero que meu filho vire pauta de tribunais. Casar está fora de cogitação. Fiz alguns testes sobre o assunto e todos deram negativos. Diagnóstico: chatice. Sou chato porque sou de lua. Hoje quero colo, dormir de conchinha, cafuné, mas amanhã quero desligar o celular, chegar tarde e ficar sem falar com ninguém. O que é impossível numa vida a dois. Dessa forma, o sonho de ter um filho vai ficando distante.

Mas eu gosto de mim como pai. Acho que eu seria um paizão. Daqueles que quem olhasse na rua diriam: “Esse homem deve ter a melhor esposa do mundo”. Isso porque para a sociedade, família feliz é família com marido, esposa e filhos. Pai e filho, apenas, fica capenga, fica em falso. Acho que muitas mulheres também pensam como a sociedade e podem confundir a minha vontade com machismo. Mas não é. Nunca vi nada mudar tanto uma mulher como a maternidade. É nítida a felicidade, a transformação, o ranking dos valores, tudo muda ao ser mãe. Só que eu acho que também tudo muda ao ser pai. Eu só queria mudar, do meu jeito, mas queria.

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