Eu amo/odeio isso! – Um diálogo sobre pessoas que amam ou odeiam tudo sem embasamento
O Facebook não inventou o botão curtir, ele só se aproveitou do condicionamento que temos de utilizar um raciocínio pouco desafiador e propenso a rótulos, para dividir as impressões entre coisas que apreciamos ou repelimos.
Antes da 1980 – ano que nasci – havia uma tendência mais sisuda dos pais ao não perguntar se o filho gostava ou não de agrião. Pois, o que tinha na mesa o filho deveria comer sem reclamar ou fazer cara de nojo. Se de um lado isso poderia parecer uma tirania, de outro fez muitas pessoas saírem da sua zona de conforto gastronômica e experimentar comidas que nunca teriam experimentado caso fossem guiados pelo seu nojinho.
O fato é que sou de uma geração pós-ditadura e parte desse processo psicológico coletivo foi abrir a porteira, sem censura. Politicamente acho incrível, mas na vida pessoal sei que faço parte de uma geração de gente muito mimada que mal olha o que tem no prato – e na vida – e logo emite uma opinião tão contundente que parece que fez PhD em Harvard.
Há uma tendência que vem se solidificando de uma classificação binária que inclui suas predileções como as coisas mais importantes da sua vida inteira (até que o sol se ponha) e suas repulsas como as coisas mais detestáveis e desprezíveis do mundo (até o amigão e a figura pop dizer que gosta daquilo e tudo mudar).
Isso é temerário, parece que de um lado existem fãs malucas dos Justin Bieber espalhadas pela internet declarando coisas profundas como “você é a coisa/texto/pessoa mais importante da minha vida!” para quase tudo. E se perguntada a pessoa não consegue explicar exatamente do que gostou, se pensou de fato sobre aquilo ou se a tocou de um jeito que fez a cabeça mudar de verdade. Ela é uma metralhadora de curtir coisas impensadamente sendo apenas guiada por uma sensação gostosinha ou odiosa sem muito embasamento.
Como nossa mente se acostumou com frases curtas de Facebook ou Twitadas de 140 caracteres, tudo que exige pensar um pouco mais parece repulsivo. Se não surge um orgasmo mental súbito não serve. Isso soa como ejaculação precoce, tudo tem que ser fast-gozo.
Parte das tantas coisas que se aprende quando a maturidade emocional vem (não necessariamente com a idade) é que a degustação da vida é que permite que alguém se sinta saciado de verdade. Você poderá passar o tempo zapeando o mouse em busca de mais uma epifania emocional e consumirá 30 coisas na sua aba do navegador, mas se apreciasse uma só com dedicação estaria mais plena e saciada.
Talvez seu receio é que se parar com essa correria emocional sentirá um aperto no peito e uma fome existencial significativa. Encarar esse vazio dá medo, eu sei. Construir uma vida com significado quando você sempre se sente com treze anos dá medo, eu sei. Mas mesmo com medo você não poderá continuar fingindo que o mundo/as opiniões/as pessoas são divididas entre gosto/não gosto. O mundo é mais que curto/não curto isso ou aquilo, e assim, vale a pena se explicar um pouco mais quando se trata de gostar de algo, sem monossilabismos afetados do tipo “que incrível!!!” – “amo ele!!!!”.
Sei que todos nós conseguimos muito mais que gritinhos agudos e apaixonados ou resmungos mau humorados cheios de “propriedade”. Então, aproveite e passe nos comentários que fez em outros texto por aqui e também veja que tipo de opinião deixou nas redes sociais, talvez valha a reflexão.
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