Eu nunca disse que te amo
Eu nunca disse que te amo por medo de não saber como isso iria soar nos seus ouvidos. Medo de você achar que eu estou indo rápido demais ou de pensar que aquele jeito de gostar inocente se transformou em algo que não era pra ser. Ou, sendo possível, não veio exatamente na hora certa. Quem vai saber o que é a hora certa, né?
Eu nunca disse que te amo por também nunca ter ouvido você dizer algo parecido. Pode parecer estranha essa justificativa, mas aconteceu. Decidir manter o pé atrás sempre foi uma estratégia minha. Sou de me jogar em certas coisas, mas guardo no meu DNA uma certa “mineirice” de ser desconfiado com outras situações.
Nisso de negar o que as aparências gritavam, fui guardando pra mim todas as vezes que quis dizer “eu te amo” de uma forma simples ou em letras garrafais pelos outdoors espalhados pela cidade. Acho que as flores já gritaram isso há algum tempo, mas cheguei ao ponto em que desentalar da garganta é preciso e encher os pulmões das pequenas três palavras parece me libertar de algo sufocante.
Então, sei que não preciso mais me travar quando a porta do carro se fechar, o vidro abrir e o último beijo sair. Sei que não preciso esconder quando o “boa noite” surgir na tela do celular e o coração colorido pular na última linha. Sei que quando for terminar a ligação já posso emendar a frase junto do “meu bem”.
E sei que posso dizer baixinho no seu ouvido enquanto a gente se entrega nos lençóis.
Por todas as vezes que não disse e agora sei que posso dizer sem medo, enfim, digo. Por todas as noites que repeti a frase com a ligação já terminada. Por todas as vezes que digitei e não enviei. Por todas as vezes que tentei traduzir isso tudo num olhar e fiquei te encarando pra ver se você entendia. Pelo tanto de tempo que eu perdi pra te falar, agora falo: eu te amo.
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