Eu te amo não é bom dia. Mas será um tesouro ultrassecreto?
Dizer “eu te amo” é mais ou menos como declarar que come cereal. Quando você é criança, é normal e você esbanja. Depois, na adolescência, quando pensa em dizer que ama a melhor-amiga-há-uma-semana bate uma vergonha descomunal e soletrar as três palavrinhas para o namorado se torna um pesadelo: você quer, mas tem medo de receber como resposta um sorriso. E essa é mesmo a questão: “eu te amo” é pergunta, resposta ou simples afirmação?
Eu amar alguém é egoísta. É eu. O que eu sinto, a sensação que aquela pessoa me causa. Não é a soma do que ela sente por mim mais o que eu sinto por ela multiplicado pelo tempo em que nos conhecemos e o fato de ter chorado no ombro dela no momento mais caótico da minha vida dividido pelas vezes que ela me escondeu um segredo. Eu te amo pode ser à primeira vista e pode não ser nunca.
Já demorei anos para não amar pessoas de quem gosto muito. Já disse e senti amor por pessoas que conheci há 24 horas. E é tudo verdade. A minha verdade. Porque o amor sou eu quem sente.
Aos meus quase trinta anos, já vi se tornar viral umas 15 vezes uma imagem qualquer com “eu te amo não é bom dia” e uma marca qualquer pedindo para marcar nos comentários quem você ama de verdade. OK, eu te amo pode não ser pra todo mundo e muito menos pra dizer o tempo todo. Mas por que transformar uma declaração tão bonita num tabu, num pote de ouro ao fim do arco-íris, na última frase de um jogo que você só pode jogar quando chegar lá?
Eu amo meus pais, claro. Loucamente. Mas também amo quem vejo duas vezes por ano. Com quem eu me preocupo todos os dias, mesmo que não fale toda semana. Amo minhas afilhadas. Amo os amigos com quem eu divido a vida e alguns colegas com quem tomo um sorvete de vez em quando. Amo Marcelo Rubens Paiva por um livro e Nelson Rodrigues por todos eles. Amo meu gato que talvez nem me ame de volta, mas nem isso diminui o meu amor.
Declaro amor em dias comuns, em aniversários e em dias caóticos. Pelo menos tento. Porque o amor, esse sentimento tão lindo de ver as crianças falando, pode tornar os dias mais leves para quem ama e para quem é amado. E nem importa tanto se ama de volta.
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