Fomos um momento, e continuamos sendo…
Deitado na praia a gente conversava, e como se o amanhã fosse hipotético, ensaiávamos como seriam os nossos sonhos. Brincávamos com a junção dos nossos sobrenomes, sem receio de sermos precipitados. Nos beijávamos leve, sem se importar com o olhar crivo dos outros. A gente era tão feliz, e, por mais piegas que fosse, também queríamos que os outros fossem. Gente feliz não incomoda, sabe como é…
Voltando pra casa e ouvindo as mesmas músicas de sempre, lembrava de dela, mesmo tentado evitar. E, dançando em meio ao transito, achava difícil ser verdade o que estávamos vivendo. Amar, assim, tão confluente. Era meio surreal. Há tempos não me lembrava como era gostoso ser o sonho de uma mulher que me trazia tanta alegria.
Chegava em casa alegre, vivo, querendo fazê-la dançar. Ligava a televisão para deixar o clima mais família. E era isso que éramos, uma família. Eu só tinha ela, e ela, lamentavelmente, só me tinha. A solidão nos ensinou tanta coisa… A sermos mais responsáveis com a felicidade dos outros. A estendermos nossas vontades, mas, acima de tudo, saber que toda relação é feita de concessões. Um pouco de ti, um pouco de mim, mas, sempre, bastante de nós.
Quando iriamos deitar sempre acarinhava as costas dela, brincava com aquele nariz de beijo pedinte e dizia, entre olhares de bobiça, como o olhar dela se fazia feliz comigo. Vem cá. Me olha que já és sorriso. Me beija que já sou saudade. Me faz silêncio que és meu barulho. Some comigo sem questionar o porvir. Me deixa te fotografar. Diz que o amanhã é todo nosso. Mas, por favor, me jura que a nossa alegria vai sempre se fazer assim…
Pensando nela, eu sorria para quem quisesse. Me vendia sereno e completo. Pois, ao lado dela, aprendi que a felicidade é quando queremos que um momento se torne infindável. E eu queria tanto que fosse… Pena que as coisas nem sempre são como desenhamos. Os tempos passam, as vontades mudam, os sonhos se escrevem de outra forma. E a gente fica, ali, como um sonho que passou. Diante disso, mesmo sabendo a alegria e a dor que trago no coração, confio na competência da vida em saber distribuir seus momentos. Até porque nem tenho outra opção.
Hoje, digo aos céus como eu queria que ela voltasse. Mas voltasse devagar. Sem implorar. Voltasse consciente da calmaria gostosa que vivíamos. Pois, na certeza que o nosso relacionamento era pluma, vivo sem muita euforia, esperando ela voltar, para dividir o meu amor, que, hoje, ainda é todo dela.
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