Garota Sputnik

Não consigo resistir àquelas bochechas rosadas, um batom chamativo, óculos descolados e shorts jeans desfiados. Essas tais pequenas, com um quê de clássico e modernidade, atualizaram as histórias em quadrinhos, os romances melosos e as brincadeiras de princesa. Tênis sujo e meias coloridas, agora, equivalem à sapatinho de cristal e vestidos de pluma. O velho Ivan estava certo. E sempre esteve.

Numa vez que me esbarrei por uma dessas Garotas Sputniks por ai, fiquei sabendo que ela havia jogado todos os seus medos no fundo do armário, embaixo daquelas roupas velhas e dos casacos da Disney. Uns diziam que ela havia endoidecido, perdido a cabeça ou coisa assim. Era maio, o tempo estava frio e, então, eu disse, olhando no fundo dos olhos dela: você-é-a-pessoa-mais-louca-que-conheci. Eu nem sabia que loucura tamanha poderia ocupar aquele corpinho-um-e-cinquenta-e seis. Ele me respondeu, segurando a minha mão, que seus sessenta e dois quilos eram toneladas vivas de ações impensadas. O que eu iria responder? Apenas, sorri.

Nelas há um tom poético que mistura a solidão com a independência desregrada. São sonetos com vinte e oito estrofes: estão por detrás das regras, entende? E eu fico aqui, como um menininho-semi-virgem, parecendo o Ben Stiller, em There”s Something About Mary, porém, ao invés de prender as bolas no zíper, me perdi foi entre os seus dedos finos e firmes. Ela é daquelas que desafia mobile casino por prazer mesmo sabendo que irá ganhar, sabe? O que eu iria dizer? Apenas, disse “sim”. Eu, que nunca pensei em me casar, quando estou ao lado dela quero enchê-la de anéis, filhos, cachorros e filmes de sessão da tarde. Mas ela desconversa – como sempre. Meninas insanas poucas vezes se perdem em sentimentalidades públicas. Porém, no auge do segredo de seu quarto, ela se permite viajar nas lembranças minhas e até sorri boba quando sabe que não há ninguém olhando.

Homens como eu, crescem naquela velha fábula de que garotas boazinhas são as tais “pra casar”. Aquelas que não-xingam- não-bebem-sentam-com-as-pernas-cruzadas-e-comem-pizza-de-rúcula-com-garfo-e-faca. Então, a gente chega aos quarenta e cinco, com três filhos e uma esposa-boazinha-crescida, mas sonha toda noite com uma tal paixão ardida da faculdade que nos mordia com os caninos, com os olhos e com as coxas suadas. Aquela que não nos esperava ligar no dia seguinte, que bebia mais cerveja do que nós e que nos mandava tomar-no-cu a cada brincadeira irônica.

E a minha Garota Sputnik é daquelas que quer conhecendo o mundo inteiro, apenas, para conhecer a si mesma. E eu não duvido de que por detrás daquela pele branca existam milhas incontáveis de cantinhos ainda não tocados. Porém, num ruído dos olhos que escorre por indicadores trêmulos, sei que ela guarda certo espaço especial em seu interior, no lado esquerdo da cama, na gaveta do centro e no armário da cozinha que encho com meus macarrões instantâneos sabor galinha caipira. Vez em quando, vou a seu apartamento e esqueço alguma novidade só para marcar um novo encontro. É difícil demais planejar um futuro com alguém que acorda às três da manhã e deseja enlouquecidamente mergulhar no Arpoador. O que eu iria dizer? Apenas, fui pegar minha sunga e umas toalhas de banho secas.

Estar com ela é ter um harém e mesmo assim ser monogâmico. Ela é moça-camaleão que muda de acordo com a cor do céu. E é tudo questão de cor, seja o colorido das unhas, das lingeries ou dos vestidos. Estar com ela é saber que no fim do arco-iris não há um pote de ouro, nem um tanto dos ursinhos carinhosos brincando por aí. Mas, existe sim, uma multidão valiosa em forma de pequena, com cabelos bagunçados e tênis colorido.

E como dizia a Marilyn Monroe: “Mulheres comportadas raramente fazem historia“. No meu caso, uma Garota Sputnik mudou a minha.

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