Gosto tanto de você que…
Cabeça de jabuticaba, eu preciso lhe confessar uma coisa: o café da Kopenhagen não é o meu preferido, como lhe disse na vez em que você me pediu para ranquear os espressos de São Paulo. Por que eu menti? Menti porque sei que a sua boca inunda de saliva quando você pensa naquele canudinho de wafer que vem junto com o café da Kopenhagen. Estou errado? Menti porque sinto um prazer indescritível – e bem maior do que aquele que sinto quando tomo cafés ‘sensaciofuckinais’! – quando coloco o canudinho doce sobre a palma da sua mão. “Tem certeza de que você não vai querer?”, você sempre me pergunta, e eu, ansioso para ver a felicidade estampada em seu rosto, apenas respondo: “O acompanhamento do meu café sempre será seu, pois você é, sem dúvida, o meu melhor acompanhamento!”.
Eu realmente gosto de você, nunca duvide disso.
Gosto o suficiente para querer dormir ao seu lado por mais muitos anos – um século, se pá -, mesmo sabendo que o seu mau humor matinal, quando bate de jeito, transforma-me em um ser capaz de achar o Jason amigável e fofo.
Gosto tanto que, apesar da preguiça brutal que sinto só de pensar em ir a pé até a padaria (que fica a cerca de 800 metros de casa), já cogitei vender o meu carro só para conseguir dinheiro para levar você a Londres. Juro! Não imagina a vontade de tenho de lhe apresentar o verdadeiro fish and chips, aquele que só rola na terra da rainha.
Gosto de você a ponto de – vez ou outra – beirar a chatice, eu sei, não precisa jogar isso em minha cara. Mas quem lhe dirá para colocar a sombrinha na bolsa quando o céu começar a pretejar? Quem – mesmo sabendo que ouvirá um malcriado “Eu sei me cuidar sozinha!” – não deixará de lhe pedir para secar bem o cabelo antes de cair no mundão? Quem lhe perguntará, toda noite, se você já tomou o remédio do colesterol? Hein? Só alguém que gosta de você pra caralho, concorda? Porque não estar nem aí é muito mais fácil, não dá trabalho nem preocupação.
Mais uma prova de que realmente gosto de você? Desde o dia em que você me disse que só não tem um coelho porque não terá onde deixá-lo quando nós formos viajar, eu vivo a procurar soluções capazes de tornar o tal orelhudo viável. Hoje, por exemplo, eu passei a tarde pesquisando “hotéis para pets exóticos”. E amanhã, provavelmente, vou dar uma fuçada em meu Facebook para ver se encontro um amigo com os pré-requisitos necessários para ser babá de coelho. Quais? Ser vegetariano e fumar menos do que cinco baseados por dia, no mínimo.
Resumindo: eu gosto tanto de você que, quando imagino o demorado sorriso que certamente dará ao ler este texto, sinto-me incapaz de não sorrir. E não há nada melhor do que isso, nem temaki.
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