Guarde o fiu-fiu para chamar o seu cachorro
Irmão, quando ela passar por você, se quiser elogiá-la de verdade, nem pense em fazer “fiu-fiu”, pois se assim fizer, agirá como se ela fosse uma cadela adestrada. Mesmo se ela cruzar o seu caminho rebolando, de saia curta e sorrindo, não a chame de gostosa e muito menos de delícia, porque ela não é uma picanha, um brownie ou um cupcake. Quando a linda e desconhecida moça sentar à sua frente no metrô, nem pense em fazer a cara que o Frota faz quando atua em algum pornô, pois se colocar a língua pra fora da boca e fingir lamber o clitóris do ar, dará a entender que ela é uma atriz de filmes adultos e que não cobra cachê para sair com um putão loser como você. Pense bem: quantas vezes você viu alguém encantar uma mulher assobiando para ela? Eu nunca vi, mesmo já tendo visto muita coisa por aí. Só as cobras são encantadas com assobios. Quantas vezes você viu um cara chamar uma desconhecida de gostosa e, graças a isso, terminar a noite na cama com ela? Eu nunca vi. Depois de atitudes como essas só vi mulheres fazendo cara de repulsa e apertando o passo. Logo, prefiro optar por abordagens mais efetivas e menos repulsivas. Aliás, pense em um homem que admira pela habilidade de seduzir mulheres. Pensou? Agora o imagine saindo por aí e chamando as pedestres de “tesuda”. Não combina! Sacou?
Existem mais de um milhão de maneiras para abordar uma mulher sem rebaixá-la, sem fazer com que ela se sinta incomodada com a sua atitude e sem chamá-la de algum objeto ou animal que ela visivelmente está muito longe de ser. É muito mais simples do que parece e, tenho certeza que se fizer da forma certa, elogiando de verdade e fazendo com que a mulher se sinta verdadeiramente especial, não tomará tapas na cara e nem pedradas das feministas que lutam pelo fim da cultura machista. Que tal abordá-la elogiando uma das tantas coisas que ela vestiu, ou fez, para se sentir linda e poderosa? Como fazer isso? Basta olhar com muita atenção para ela e dizer algo como: “Nunca pensei que pudesse me apaixonar por alguém de galocha estampada de bolinhas”. Deixe para elogiar a bunda dela depois, quando tiver mais liberdade e quando ela souber que está longe de ser o maníaco do parque.
Eu sei que você sabe e que vive fazendo piadinhas relacionadas ao tempo que elas demoram pra arrumar o cabelo. Considere isso uma pista de um alvo para uma abordagem eficiente. Elogie as pontas mais claras do cabelo dela, mas faça como um homem faria e tome cuidado para não parecer o Wanderley Nunes (cabeleireiro) falando. Não diga: “Adorei sua californiana, pois ela deu mais movimento e leveza ao seu penteado”. Apenas elogie, de uma forma sincera e não invasiva focando no que realmente achou bonito. Sim, eu sei que curtiu a bunda dela, mas deixe para falar disso depois, tá? Outra forma de abordar uma mulher é utilizando a gentileza e, mesmo que ela não seja gestante ou idosa, tenho certeza que vai ganhar alguns pontos se, no ônibus lotado, ceder seu assento a ela. E, se for fazer isso, não se esqueça de verificar se não há a presença de outros especiais (gestantes, idosos, deficientes, crianças) que precisam mais do lugar do que ela, pois desrespeitar as preferências provavelmente causará o efeito contrário e fará com que perca pontos ao invés de ganhar. Outra forma muito boa para puxar papo é fazendo algo que a faça rir. Mas, lembre-se: não banque o Mr. Bean ou o adolescente que dá voadoras em professoras para fazer a classe gargalhar. Agindo dessa forma, ela, no máximo, vai rir da sua cara e utilizar sua bestialidade para divertir as amigas no próximo sábado. Se ligou?
Eu sei que é difícil, mas, ao menos uma vez na vida, antes de dizer algo, tente se colocar no lugar dela. Pense se o elogio está prestes a deixá-lo com o poder de elevá-la ou se, de certa forma, direta ou indiretamente, servirá para rebaixá-la. Para todo o tipo de coisa e momento existe o adjetivo certo. “Delícia”, por exemplo, funciona muito bem para o jantar que sua avó faz, mas, definitivamente, é um adjetivo que não serve para abordar uma desconhecida na rua.
É apenas uma questão de bom senso, aliás, não apenas os homens que vivem assobiando precisam de bom senso, pois algumas mulheres estão sendo muito extremistas e andam colocando o “fiu-fiu” no mesmo saco que “só queria dizer que você é linda”. É evidente que as mulheres precisam ser respeitadas e abordadas de uma maneira que as façam sorrir e não sentir medo ou humilhação. Porém, nós homens, não podemos perder o direito do xaveco bem tecido. E, cá entre nós, extremismo é uma merda. Desrespeitar deve ser proibido, mas o xaveco decente precisa continuar existindo.
Por fim, gostaria de deixar um tapa na cara das hipócritas que acham lastimável quando um pedreiro as aborda assobiando, mas que adorariam se esse “fiu-fiu”, da mesma forma, saísse da boca do Brad Fucking Pitt. Se esse for o seu caso, cara amiga, na verdade, o que lhe incomoda não é a abordagem e sim aquele que a aborda. Aí é outro papo. Outro texto, talvez.
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