Londres, a cidade do céu indeciso e do amor – roda – gigante

A alegria em Libras dói um pouco no bolso, mas Londres é um mundo obrigatório para que você conheça todas as variações do tempo em linhas estéticas e comportamentais. A pontualidade que começa pelos ponteiros e avança para um tipo de racionalidade impressa em uma arquitetura clássica, em pessoas elegantemente discretas, garbosas, educadas. Estar em Londres é como olhar a vida de dentro de uma carruagem, e no caminho desviar de imensos ônibus vermelhos de dois andares.

Olhar o Big Ben, aquela torre esbanjando tempo, e evidenciando a grandeza do parlamento através das badaladas de um sino. Em volta dos acontecimentos, o Tâmisa: um rio de cor misteriosa, com cheiro de despertar caretas, que deságua no mar do norte. Aquele nobre cenário, que ainda revela uma roda-gigante de estimação. A London Eye gira aos olhos e atravessa o ar para que todos os ângulos da cidade possam nos encontrar por 30 minutos. Ao invés de gôndolas, cabines de observação estrategicamente arquitetadas, momentos em forma de círculo, de não esquecer.

O lado patético de ser turista: ir naquela rua, fora de mão, longe de tudo na cidade, que vista por um leigo, mais se parece com um manicômio. Pessoas indo e voltando pela faixa de pedestres só para dizerem: “eu estive na Abbey Road”, é… eu estive só para imitar a famosa capa do CD dos Beatles. Estar em Londres é como um número musical, por todo canto, por toda mente, por todo ouvido. Na minha playlist imaginária toca Queen, em Piccadilly Circus também.

Como não se lembrar do exílio de Caetano e dos pássaros fugitivos do tropicalismo? ”London London”. Aquela canção que fala de policiais ingleses que cumprimentam o cidadão e da paz, imune a pressa. “Deus abençoe a dor silenciosa e a felicidade”. É tudo verdade. Até a rainha é de verdade. Mas, onde está a rainha? Ir ao palácio de Buckingham e imaginá-la tomando um chá, brincar de especular o pomposo mundo pop da família real. Escolho o dia da troca de guarda, só pra ver aqueles cabeçudos soldadinhos vermelhos em uma cerimônia que começa 11 em ponto e termina com lindos cavalos negros marchando. No caminho da volta, apreciar o St James Park, e encontrar esquilos que dão sorte.

O céu londrino é sensível, é um cinza que pode chorar, desafiando um sol que prometia apenas alegres amarelos. Olhos de caleidoscópio, árvores de tangerina, céu de marmelada: Lucy in the Sky. É dia de Candem town, lugar em que a realidade confia no lúdico. Quanta gente da moderna: garotos cabeludos com calças de couro e meninas de gravata com vestido de lacinho. Pubs polêmicos, ali onde Amy Winehouse beijava o chão depois de um pileque. Todos passeiam pelo estábulo que virou mercado psicodélico. No “Stable Market” o diferente é quase redundância: repare na futurista loja Cyberdog que vende uma gama de artigos eróticos em neon, no estande de peixinhos que fazem massagem no seu pé, na loja que vende objetos voadores de tipos vários e a “fabriquinha” que faz sorvete instantâneo, na sua frente, em apenas dois sabores: creme e chocolate.

Em um lugar chamado Nothing Hill, um clima tenro incentivado pelas casinhas floridas e aos domingos a feirinha da Portobello Road. Brechós improvisados, pechinchas e muita confraternização. Hoje eu sei, que era para Londres que Elvis Costello cantava “She’:

“Ela
Pode ser o rosto que não consigo esquecer
O caminho para o prazer ou para o desgosto
Pode ser meu tesouro ou o preço que tenho que pagar
Ela pode ser a música que o verão canta
Pode ser o frio que o outono traz
Pode ser cem coisas diferentes
No decorrer de um dia.”

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