Maria Ribeiro e o livro que me fez mudar de ideia
Li Trinta e oito e meio em um dia. O dia em que saí da livraria com um sentimento de “vamos ver qual é a dessa garota” e terminei com a certeza de que Maria Ribeiro não é uma garota. É uma mulher. Antecipando qualquer possível fim de um texto sobre um título que acaba de ser lançado: sim, o livro é incrível.
Eu poderia esperar qualquer coisa de Maria Ribeiro. Talvez um livro cheio de referências cinematográficas sobre as quais eu jamais ouvi falar. Ou então, claro, historinhas medíocres e vitimizadas de quem teve um vida completamente diferente da minha. Um pouco sobre política, muito sobre Domingos Oliveira e Los Hermanos, quem sabe. Mas encontrei nas páginas de Trinta e oito e meio a única coisa que eu jamais imaginei: uma mulher normal, sensível e diferente do que a TV mostra e a aparência instiga.
Não gostava dela. Gratuitamente. Aquela primeira aparência que engana, diminui, envergonha. Não concordo com grande parte das suas opiniões sobre política, acho que alguns posicionamentos parecem ensaiados demais e o bom gosto pra moda me incomoda um pouco (se ler este texto, Maria, seja cafona uma vez só pra eu me sentir melhor, ok?). Mas tudo é detalhe quando percebo que com as palavras quem se torna consumista pelo próximo texto sou eu.
Nunca quis ser mãe. Mas, nas palavras delicadamente combinadas da autora, coloquei a mão sobre o ventre e vi doçura na maternidade. Nunca me despedi de alguém que fosse tão fundamental pra mim quanto um pai. Mas, nos textos dela sobre a partida, encontrei uma dor que está no peito de todo mundo, esperando lugar pra existir.
Os textos são devoráveis. Virar a página, depois da 35 – esse texto me fez chorar no meio da rua – se torna quase como respirar, sentir o calo do sapato doer ou cuidar para não coçar o olho por conta do rímel: um hábito.
Terminei Trinta e oito e meio com a certeza de que Maria não escreve sobre mulheres de 38. Escreve sobre mulheres. Eu, você e todas aquelas que a gente acha que são rasas e no fundo (sim, há profundidade) são deliciosamente mulheres.
Maria Ribeiro conquistou um lugar de respeito na minha estante, não por ser amiga da Carolina Dickmann, ter feito um filme sobre o Domingos Oliveira ou ter estreado um documentário sobre Los Hermanos. Mas por, apesar de tudo isso, ser Maria. Uma mulher e suas convicções e sentimentos como todas nós.
“Eu estava recém-separada e com aquele discurso cafona de de não morar junto nunca mais. Mas aí você começou a jogar sujo, e fez coisas terríveis e imperdoáveis, como brincar com o meu filho e saber o número do meu pé. E eu fui estudando desesperadamente para descobrir os seus defeitos, porque não era possível alguém acordar bem-humorado e ainda por cima fazer cappuccino com aquela espuma profissional. E assim eu fui ficando… uma semana, um mês, sete anos. E assim estou, sem planos de ir embora”. (página 24)
“Porque uma das coisas mais bonitas e difíceis de ser mãe é olhar para os rebentos como outros, e não como extensão de si, e respeitar as diferenças a ponto de amá-las”. (página 51)
“Ser companheira dos meus medos e dar a mão a eles foi a coisa mais bonita que me aconteceu. Também decidi que não quero saber de gente bem resolvida. E que nunca mais vou planejar assassinar ninguém que tenha fechado um cruzamento no trânsito. O homem é projeto. E a informação a respeito de si é puro ouro”. (página 78)
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