“Mas quem não é né?” – Um diálogo sobre pessoas que não admitem seus defeitos
Acho um fenômeno curioso quando alguém admite em si uma característica desagradável e logo emenda “mas quem não é, né?“ ou “mas também não sou só eu que faço isso…” ou “mas todo mundo tem um pouco disso, né?”
O ponto é: qual a diferença se você tem uma “doença” e descobrir que outros também tem? De forma bem prática ela não diminui de tamanho ou importância, e sim, continuará ali. Penso que esse é um típico subterfúgio para não se sentir tão mal com a autodescoberta, e assim com uma leve tentativa não assumir sozinho o peso dos próprios defeitos.
E qual seria o problema disso? É que ao tentar se incluir na norma estatística dos desgraciados a pessoa coloca de lado a própria descoberta, afinal tem mais gente com isso e não deve ser tão grave. É como se ela diluísse a importância do que percebeu por saber que não está sozinha nesse barco. Esse aparente medo da solidão e mal-estar não ajuda muito a mobilizar as forças de mudança. Se de outro lado a pessoa simplesmente admitisse “sou assim mesmo” ela pegaria as ferramentas e colocaria a mão na massa, sem usar como muleta as identificações alheias.
Mas quando pensa que não está sozinha parece sentir um alívio social, do tipo que ninguém vai notar sua dificuldade ou abonar o seu próximo erro só porque está acompanhada na desgraça. Por isso quando ouço essa alegação posterior noto que não houve uma aceitação completa do próprio defeito, mas sim, só uma crença e necessidade de aceitação.
Se você é – [seu defeito] – pouco importa se é um característica rara ou popular, apenas pare com isso. Como? Deixando de fazer o que faz e fazendo a coisa oposta.
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