Medo da traição: você tem?

Cometer adultério. Pular a cerca. Pôr chifres. Cornear. Dependendo de como você vê a mancada, trair pode ser um erro imperdoável sem nem direito à defesa e apelação ou apenas uma vacilada feia que, conforme o outro jura de joelhos pela própria mãezinha, ‘não significou nada’ – claro, para quem fez, não para quem recebeu a galhada. Também conforme a ótica, o outro nem sempre é o outro. Pode ser um caso, uma aventura ou só uma escorregada. Ops! O adjetivo do meliante varia de acordo com a gravidade do crime. Já a pena pelos danos morais da pisada vai da bondade da promotoria. Ou, trocando em miúdos, do quanto o corno é manso. E taí a grande questão da coisa que diferencia o ‘crime hediondo’ do ‘roubo de galinha’. Engana-se quem acredita que os rigores da lei vão pesar conforme a paixão, possível insegurança dali pra adiante ou rigidez moral que se tenha. Pode apostar: a grande diferença daqueles que reinam, mas perdoam no final e tocam adiante – “já que a m… está feita, que se f…”, diriam – e daqueles que não admitem sob hipótese nenhuma a traição, está no quanto a notícia vaza. Quer dizer, a preocupação está menos para o quanto o parceiro é honesto que para o tamanho do rombo na própria imagem. Tanto pra eles, quanto e principalmente, para os outros. Sim, porque saber que se pode ser traído é uma coisa ruim.  Mas saber que podem chamá-lo de corno, aí a parada muda de figura. Vira parada do orgulho macho – ou fêmea.

Por conta disso é que muita gente prefere morrer na ignorância. São capazes de prevenir em alto e bom tom: “se for me trair, que pelo menos faça bem feito, não me deixe saber”. Para o bom entendedor: “se for f… comigo – no caso, com outro – encubra tudo ou minta até morrer.” Talvez seja mesmo uma boa forma de minimizar o impacto da coisa. Afinal, como dizem, ‘o que os olhos não veem, o coração não sente’.

Já para quem a mínima suspeita de ‘ser o último a saber’ tem efeito mais devastador sobre a moral que sua pobre alma possa suportar – e tome-se o absurdo número de crimes passionais para se ter ideia de quantidade de gente desse lado do equador – não há solução fácil. Mas vamos pensar em algumas divertidas:

1)     PROCURE UM SANTO – Você pode procurar pela segurança dos tipos ‘santos’ – os que andam com Bíblias a tiracolo feito poodle de madame é uma boa, caso ‘ajoelhar pra rezar’ à noite ao lado da cama, literalmente, tenha pra você um gosto quase erótico.

2)     CONVERTA-O  – Tentar converter o outro a ser devoto apenas da sua santa periquita/santo peru também é uma alternativa. Para isso valha-se do que puder: mandingas, streap, pole dance, promessa, fantasia de bombeiro ou enfermeira… Se dá resultado? Pode ser, se você acredita em milagres. Santa… ou o danado já veio convertido ou esqueça. Nada do que se faça pode resgatar a natureza do que já está perdido. A não ser, é claro, pela vontade do próprio espírito (santo) do dito.

3)     MMA DO AMOR – Outra ‘solução’ para os eternos desconfiados é a famosa ‘marcação cerrada’ ou MMA – Muita Marcação Amorosa. Mas tem que ser bem feita: tem que passar lição de moral, ameaçar, impor limites estreitos. Sem dó. A brecha tem que bastar apenas pro vivente respirar.  Nesse MMA vale tudo: conferir celular, sites visitados, posts no face, revirar carteiras, bolsas, molhar a mão do vigilante do prédio por qualquer informação suspeita. Tente pegar a senha dele do face. Mas se não der, não se preocupe: a tecnologia está aí para isso. Agora, por apenas R$ 29,90 você paga pra pegar o pato no face – anote aí: www.fidelidadeface.com. É um teste de fidelidade que vai colocar a sua vítima – ops, quer dizer, seu amor – sem saber numa armadilha, ops, conversa com outra pessoa na dita rede social pra ver até onde vai o papo. O relatório vai pro mandante, quer dizer, o inseguro, via e-mail. Se dá certo também? Bem, se você tiver gosto pela violência, será um bom passatempo até você, inevitavelmente, ir à lona.

4)     PARTA PRO ATAQUE – Se pra você ‘o ataque é a melhor defesa’, esta é a sua tática! Ao invés de estar sempre correndo atrás do prejuízo, faça o prejudicado estar sempre um passo atrás de você. Dê em cima dos amigos, dos colegas de trabalho, do padeiro, carteiro. Faça ele entender que até o vigilante do prédio – aquele que você talvez já paga pelas leves indiscrições – seja um suspeito grave. Seu amor ficará tão preocupado, tão possuído de ciúmes e medo, que provavelmente não terá tempo pra pensar em mais nada além de tentar transformar  você numa santa ou partir para o ‘mortal combat’ do amor. Ah, claro, é bom lembrar que esta é uma estratégia de guerra de poucas vitórias. Ou nenhuma.

Brincadeiras à parte, diante do medo da ‘traição’, não dá pra falar muito sério, não é não? Entre fechar os olhos cegamente e fingir que confia ou se manter 24h por dia na defensiva com táticas mirabolantes pra tentar coibir a natureza de se manifestar, não pode existir outra alternativa? Penso que um bom começo talvez seja aceitar o fato que a gente precisa aprender a confiar. Adianta ficar preocupado? Viver suspeitando do outro? Desconfiar só ajuda a destruir a nossa autoconfiança. E sinceramente? Eis uma atitude que não deixa ninguém em paz para ser feliz.

E falando em ser feliz…

Afinal, “o que ele tem que eu não tenho?”

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