Meu coração não é playground
Eu me considero uma mulher vacinada. Não é qualquer conversinha que me convence. Me quer? Prove. Porque eu cansei de topar com caras que prometiam e, depois, me deixavam com aquela sensação de “eu devia ter ouvido o conselho das minhas amigas”. Uma hora a gente toma vergonha na cara e para de quebrar a cara, né! Pelo menos é assim que deve funcionar. Errar, aprender e não repetir. Não dá pra ser trouxa a vida inteira.
Então, quando eu ouço aquelas palavras vomitadas de “eu gosto de você”, “você é linda”, “é diferente”. Uma porra! Não sabe nem qual meu sobrenome e já vem cheio de dedos, mãos e intenções. Péra lá. Eu tive que gastar muito meu coração tentando acreditar que no meio daquele monte de palavras bonitas havia algum sentimento de verdade. E, quem sabe, pode até ser que eu tenha jogado fora alguma história por não tentar, mas é o preço que alguns pagam pelos erros idiotas dos outros.
Até já ouvi dizer por aí que é preciso sempre estar aberto para as novas possibilidades. Na real, eu até acredito naquela música do Teatro Mágico que fala sobre a gente nunca saber de quem irá gostar, mas se já não chegar me fazendo brilhar os olhos e palpitar o coração, eu nem quero saber que apito toca (me sentindo a minha própria mãe falando assim). E não vai adiantar vir com discurso pronto sobre como ficou olhando meu sorriso, como sempre quis conhecer alguém assim. Não vai colar.
Talvez eu tenha que me despir mesmo desse rancor que carrego no coração e que me faz enxergar em todo homem um potencial babaca para quebrar o coração de uma mulher. Talvez eu tenha que parar de falar tão mal deles e me policiar para enxergar se o defeito, no final das contas, não está em mim. Ou, talvez, as pessoas pudessem ser mais sinceras e dizer exatamente aquilo que sentem. Não apenas ensaiar uns floreios pra levar mais uma pra cama.
Talvez eu devesse mudar, mas até que me provem o contrário, tem sido bom ser assim. Vacinada, sem sofrer das doenças que afligem os corações que insistem em deixar terreno fértil para as expectativas. Sobre elas, melhor não. E aposto que, como eu, existem várias por aí. Cansadas de esperar, de encher o peito de uma esperança boba para que algo de bom aconteça, de querer agarrar uma promessa. Cansadas de ser parte do jogo.
Desculpa, mas meu coração não é playground.
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