Minimalism, Marie Kondo e como ter menos tem relação com ser mais
Mudei de casa. De novo. A terceira vez em seis anos. Espero que a última – e sei que essa esperança é só uma teimosia mesmo. Dessa vez foi diferente: antes de encaixotar as coisas, fiz um combo que deveria ter feito antes, muito antes. Primeiro, assisti Minimalism. Um documentário da Netflix que me mostrou que eu tinha um olhar míope sobre a vida com menos.
Minimalism mostra que viver com menos não é viver sem nada. Mas é ter só o que importa, o que faz diferença. Quando questiona se o que temos é o que nos faz feliz, o documentário não propõe uma vida hippie. Só questiona se olhamos para os objetos de forma atenciosa, se não acumulamos só por acumular. Faz pensar por que ter coisas é uma forma involuntária de mostrar pra nós mesmos e para o mundo que somos especiais.
Daí veio a batata com Coca grande do meu combo. Kondo. O livro sobre organização foi um best-seller há uns tempos, mas eu nunca tinha realmente lido. Uma amiga querida – que talvez estivesse um pouco aflita com a minha agonia da mudança – deixou a obra em cima da minha caótica mesa de trabalho.
O livro, na verdade, não é um guia de arrumação. É uma sequência de questionamentos sobre por que temos as coisas. Olhar para cada um dos objetos e pensar no que ele significa não foi uma prática que funcionou pra mim, por exemplo. Mas uma das lógicas que mais se aplicou na minha mudança veio dela: pra que guardar todo micro papelzinho, presentinho ou bobiça que alguém nos deu só porque alguém nos deu? A japonesa diz que a função de um presente se cumpre no momento em que ele é entregue: fazer o outro feliz. Depois, se ele for útil, ótimo. Se não for, não precisa ser guardado por todas as gerações porque já cumpriu sua função.
Sem nenhuma análise antropológica profunda e baseada apenas nas minhas próprias impressões, cheguei à conclusão de que todos nós somos naturalmente acumuladores. Como tudo na vida, nossos espaços são espelhos dos nossos sentimentos. A ansiedade, o medo de não ter, o desejo de provar qualquer coisa pra qualquer um, a incerteza sobre o futuro das amizades, das relações, dos empregos, dos salários. Tudo faz com que a gente guarde alguma coisa dentro de armários ou dentro de nós. Somos acumuladores de coisas porque somos pesados de emoções.
Para tentar mudar essa triste realidade, comecei por mim. Para a casa nova, veio uma Kombi a menos. Foi esse o carro que levou caixas de doação para uma entidade filantrópica incrível da minha cidade. Quando ele foi se afastando, me dei conta de que nunca serei uma minimalista ou terei uma casa completamente organizada. Mas posso ser infinitamente mais feliz.
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