Mulherões e mulherzinhas

Dentre as mais criativas denominações nas quais as mulheres são enquadradas, as duas que acho mais fiéis à realidade são a do “Mulherão” e a da “Mulherzinha”. Que daqui por diante serão utilizadas sem aspas, por que dá um trabalhão danado. Ao contrário do que pode dar a entender a terminologia, as duas classificações nada têm a ver com beleza, tipo físico ou inteligência. E que fique claro, a utilização do aumentativo e do diminutivo não expressa superioridade de um tipo em detrimento do outro nem nada disso. É meramente ilustrativo.

E eu vou explicar. O Mulherão – com maiúscula mesmo- é, sem dúvidas, um mulherão. Independente de sua beleza, ela usa decotes, saias curtas, pulseiras, anéis e afins, perfumes sensuais, cortes de cabelo “fashion”, essas coisas. Se você um dia estiver andando na rua, e de repente ouvir assovios, supiros e coisas do tipo “aimeudeusdocéu”, “a nora que mamãe pediu a Deus” ou “casa, comida, roupa lavada e Mercedes na garagem”, não tenha dúvida: deve estar por perto um Mulherão. Como? Se não pode ser você? Não. Se você tem dúvidas, não era com você. Um mulherão está sempre ciente do efeito que causa.

Já a Mulherzinha não. A Mulherzinha, ainda que seja linda de morrer, nunca causa tais efeitos. Ela usa roupas discretas, colônias sóbrias e, quando usa um decote, o que é raro nesse tipo de mulher, fica o tempo todo tapando com as mãos, numa atitude de “tá olhando o que??”

O Mulherão, em um relacionamento, brinca com você. Te usa sem piedade. Chega sempre atrasada – quando chega – não liga nunca, quase nunca atende ao telefone para se fazer de difícil, e não te dá nenhuma moral. E quando você diz que gosta de Fernando Pessoa, ouve jazz e que adorou “O Grande Ditador”, acha que você é bicha. Ou, no mínimo, meio afetado. Mesmo que ela ouça jazz e goste de pessoa. Ela pode, você não.

A Mulherzinha não. A Mulherzinha não só sente saudades, como te liga dizendo isso. Sai pouco e tem um ataque de ansiedade se você não liga no dia seguinte e, quando você sugere que saiam as oito, por que às seis tem jogo na televisão, te chama de insensível e diz que você estragou o jantar romântico com velas aromáticas seguido de uma sessão de “nove e meia semanas de amor” que ela tinha preparado. E não te acha bicha só por que você gostou de Razão e Sensibilidade. Ela só vai dizer que “essa sociedade careta e conservadora não entende a personalidade dos “filhos-únicos-criados-pela-avó-que-colecionavam-o-álbum-dos-Menudos-e-pulavam-corda-na-escola”. Ela te entende. Mulherões gostam de homens safados, rudes, cafajestes, que não tiram os olhos dos peitos dela durante o jantar.

Mulherzinhas gostam de cafuné, de ver televisão abraçadinho e de cartões melosos e românticos, e acha uma gracinha quando você chega com a gravata torta ou com o cabelo despenteado. O Mulherão te acharia um idiota. Não por não saber dar nó na gravata, mas por usar uma! Aliás, se você tá lendo isso e é mulher, provavelmente é uma Mulherzinha. Mulherões não lêem crônicas. Nem poemas. E acham que cronistas e poetas “são todos umas bichas que ficam escrevendo essas palhaçadas! Eu vou é prá academia… Claro, há exceções. Sempre há exceções. na verdade, toda mulher tem um lado mulherão e um lado mulherzinha. Cá entre nós, as mais interessantes são as que dosam isso da maneira perfeita. São as minhas preferidas, pra ser honesto. Eu mesmo conheci um Mulherão (e que mulherão!) que lê Pessoa, gostou de “O Grande Ditador” e até lê crônicas. E ia até gostar. Mas ia me achar bicha mesmo assim. Bom, não se pode lutar contra a natureza… Volto ao assunto numa próxima oportunidade.

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