Deixe Filipe Catto te desvendar
À primeira ouvida, a referência é Ney Matogrosso. Vinte segundos depois, tem David Bowie, Ana Carolina (na fibra, não no timbre). Numa segunda ouvida, o que era MPB metamorfoseou para rock n’roll e logo voltou passando por um samba bom. Nem nos meus mais ousados anseios de jornalista que tenta explicar o mundo eu imaginei que fazer entender Filipe Catto em uma única definição.
Conheci a voz por uma admiração que temos em comum – o artista catarinense brilhante e inexplicável Nestor Jr. – quando vi um post com uma obra. Vi que era cantor, ouvi e, como mágica, o nome Filipe Catto começou a aparecer em todos os lugares. Não sei se fui cega ao não enxergar antes ou o vi exatamente no momento em que os olhos do mundo se voltaram pra ele.
É preciso ter personalidade para gostar de Filipe. Especialmente porque, aparentemente, não há medo de errar, receio em misturar e referências das mais diversas. Só quem não tem medo do imperfeito prefere o palco – e sua consequente plateia – ao estúdio.
Tenho paixão por intérpretes que conseguem despertar sentimentos diferentes ao assinarem suas emoções a um repertório. É o que sinto que Filipe faz com Fábio Jr., quando canta 20 e Poucos Anos, que já teve um milhão de versões, e parece que a letra é ele, é o que emana dele.
Pra mim, Filipe Catto é controverso como seu repertório, inverso ao usual e verso, mesmo quando toma de assalto as palavras alheias.
Na setlist de hoje, uma surpresa: a Bruna Grotti, comparsa aqui de Entenda os Homens, selecionou três músicas do Filipe Catto. Temos em comum, além de sermos jornalistas e acharmos imbecil quem renega o popular, o amor por Filipe.
As selecionadas da Bruna:
“Muito obrigado por tudo. Pelo teu suor, pelos teus gemidos. E espero que a minha estupidez cicatrize teus sentimentos feridos”
“Como me pedir para lembrar das coisas boas? Se coisas boas são saudades e saudades o que são?”
“Eu não olho pra trás, não, não me arrependo. Vou com a roupa do corpo, não sei bem pra onde mas não paro não”
As minhas favoritas
“Se eu soubesse que o amor é coisa aguda. Que tão brutal percorre início, meio e fim. Destrincha a alma, corta fundo na espinha. Inebria a garganta, fere a quem quiser ferir”
“Pele que é pele não mente, não esconde, não dissimularia. Meu corpo seja palco vertido e tomado em pelo à tua poesia”
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