Não ouça os outros. Escute.

Esses dias ao caminhar pela cidade, repleta de amores vazios, percebi a importância de aprender a escutar as pessoas. Eu disse escutar, não ouvir. Compartilhar das dores e angustias, das felicidades e das dúvidas. De sentar e ouvir com olhos que sorriem.

Convenhamos, nós somos seres impacientes, nunca temos tempo para escutar nossos amigos, nossa família – quem dera pessoas que mal conhecemos. E quando dizemos escutar, olhamos para o celular, para o cardápio, para o jogo que está passando na TV ou até para as cutículas que estão mal feitas. Pois defendemos que ouvimos com o ouvido, não com os olhos – coisa que discordo cegamente. As pessoas precisam ser ouvidas com os olhos. Escutar de sentar com perninha de índio em frente aos nossos avós e ter paciência de ouvir as mesmas histórias de sempre. E assim sorrir como se fosse a primeira vez. Eles precisam disso. De ouvir como foi o dia da sua mãe, por mais simplista e rotineiro que tenha sido. De largar o celular, o “aham”, o “tá bom” e só escutar com os olhos.

Sempre fui um cara que gosta de vagar. Pela vida e pelas pessoas que esbarram comigo por aí. E em meio aos meus passos rápidos e minhas ansiedades inóspitas aprendi o quão as pessoas precisam ser escutadas. Para nós, seres providos de certa vida aconchegante e repleta de carinho, ver um mendigo na rua, um menino vendendo doces ou uma senhora sem perna esturrada ao chão virou paisagem. Virou habitual. Para nós ouvir os nossos avós contarem que quando eram crianças trabalhavam não sei quantas horas por dia, virou normalidade, banal ou como se diz por aí coisa de velho.

Todo mundo precisa de um Grilo falante, um Sebastião, um Pumba ou um Abu. Mais do que ser ouvido, sentir-se escutado e consequentemente importante. Sentir que o outro está recebendo nossas emoções, vivências, angustias com carinho e reciprocidade.

Talvez por isso eu ache tão mágico a sensação de ir a um hospital e conversar com senhores e senhoras idosas. Eles só querem ser escutados ao dividir suas histórias recheadas de vivências. E ao meu ver não existe nada mais sensacional do que fazer uma pessoa sentir-se importante só pelo fato de escutá-la com carinho no olhar e compreensão de história.

Então, por favor, não vamos poupar nossos ouvidos a quem tanto tem a nos dizer. Deixe-se levar, escute com os olhos e sorria com alma.

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