Ninguém é de porcelana
Se eu fosse autor, escritor ou roteirista, todos os meus vilões teriam finais felizes. Não tenho a menor paciência para vítimas. Acredito veementemente que ninguém é de porcelana. Ninguém quebra diante de um “não”, de um “fora”, de um “puxão de orelhas”, enfim…
Ninguém morre porque descobre que o mundo não gira em torno de nós mesmos. Tudo na vida tem limite. Se não tem, deveria ter. Não há nada pior que enrolação. Você convida alguém para jantar e a pessoa, já sabendo que não está com vontade de sair de casa, fica muda, gagueja, procura uma desculpa… Quando deveria ser objetiva, direta, rápida e dizer “Hoje não dá”.
Há também aqueles que querem terminar um relacionamento e provocam uma briga, para fugir de uma conversa e explicar que a relação acabou. Quase sempre é assim. E sabe, por que isso acontece? Porque fomos ensinados a achar que o outro não é forte o suficiente para ser contrariado. Nos criaram para lidarmos com fracos. E assim vivemos o tempo todo pisando em ovos com as pessoas, achando que elas são quebráveis. Chamam isso de educação. Eu chamo de burrice. Educação não tem nada a ver com medo de dizer a verdade. Gosto das coisas passadas a limpo, sem rasuras, preto no branco. Rodeios, comigo, não funcionam. Prefiro chorar de verdade, chorar por um sofrimento que sei que existe a chorar por uma mentira ou por uma ‘quase mentira’ – se é que isso é possível.
E não entendo como muitas pessoas preferem adiar sofrimento, mascarar os problemas, retocar feridas do coração como se elas estivessem no rosto. Não é assim que funciona. Sou a favor do pé no chão sempre. É difícil? É. Mas quem quer facilidade não nasce. O mundo não é de facilidades. A vida é madrasta. E não é se fazendo de coitado, não é fazendo bico, cruzando os braços, batendo o pé no chão ou fingindo educação que as coisas vão se resolver. Braço cruzado só resolve o problema de artista plástico, que precisa que o manequim humano fique parado, para ele poder pintar com perfeição. Se esse não é o seu caso, pare de agir como se tivesse partido ao meio, toda vez que alguém não lhe disser sim pra tudo.
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